Gago Coutinho e o aeroporto de Lisboa

Tal como ainda recentemente aconteceu com a Amália e o Eusébio, nunca é tarde para Portugal reconhecer e homenagear um dos seus maiores, o Almirante Gago Coutinho.

Em 2002, no jornal Correio da Manhã e na Revista CARGO, defendemos a mudança de nome do Aeroporto da Portela em Lisboa para Aeroporto Gago Coutinho. Em 2008 e 2013, voltámos ao assunto em livros que publicámos sobre transporte aéreo. O poder político ignorou a sugestão, que tinha como objectivo homenagear um grande Português, talvez o nosso último herói.

O Almirante Gago Coutinho nasceu no Bairro da Madragoa, em Lisboa, em 17 de Fevereiro de 1869. Em 1886, alistou-se na Escola Naval. Aos 24 anos, na Corveta Mindelo, fez a sua primeira viagem ao Brasil, onde assistiu à revolta da Armada Brasileira e à epidemia de febre-amarela, que grassava no Rio de Janeiro.

Como oficial de veleiro, Gago Coutinho correu mundo. Percorreu a África e viveu no mato, em convívio com os indígenas. O seu nome está indissociavelmente ligado ao ordenamento do antigo Império Português, onde demarcou mais de dois mil quilómetros de fronteiras e calcorreou mais de cinco mil quilómetros. Nestes trabalhos de geodesia, teve como companheiro Sacadura Cabral.

O Almirante Gago Coutinho, além de ilustre marinheiro, astrónomo, matemático, cartógrafo e historiador, foi um dos precursores da navegação aérea a nível mundial, que muito honrou e prestigiou Portugal.

Gago Coutinho criou instrumentos e métodos para a navegação aérea e estabeleceu princípios para a navegação aérea de longo curso, através do seu sextante com horizonte artificial, um desenvolvimento científico que ficou conhecido como o “Sextante System Admiral Gago Coutinho.” Foi também o primeiro navegador aéreo no mundo que se orientou, no ar, por intermédio de navegação astronómica.

Entre outros feitos, Portugal deve a Gago Coutinho e a Sacadura Cabral, a gloriosa Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, realizada em 1922, entre Lisboa e Rio de Janeiro. Uma viagem histórica e memorável, com muitas dificuldades e contratempos, que só os heróis e destemidos conseguem superar e vencer. O regime da 1.ª República encheu-o de honrarias.

O Almirante Gago Coutinho foi ainda o autor do “Relatório Secreto de Gago Coutinho sobre as Ilhas Selvagens, de 1929”, um documento de quatro páginas, onde é revelada a tentativa espanhola de se apoderar deste conjunto de Ilhas Portuguesas, próximo das Canárias. Devido a esse relatório, Portugal colocou um farol naquelas ilhas, que assim continuaram Portuguesas.

Como todos os homens invulgares, Gago Coutinho era uma pessoa muito modesta e simples, o que o levava a não fazer uso das numerosas condecorações nacionais e estrangeiras que recebeu. Também não dava importância aos elogios públicos, apesar de ter recebido muitos. Júlio Dantas, por exemplo, escreveu: “Gago Coutinho foi o último Herói, o nauta sobrevivente dos Descobrimentos e navegações, que o génio henriquino inspirou.”

O ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, aproveitando uma negra efeméride, também decidiu propor a mudança de nome do Aeroporto da Portela. Porém, o nome que propôs, fruto de algum oportunismo político, em ano de eleições, é pouco consensual na sociedade Portuguesa e não tem, nem de perto nem de longe, o currículo glorioso e patriótico de Gago Coutinho.

Esperemos, agora, que o Governo preste a merecida homenagem ao Almirante Gago Coutinho, o maior vulto da Aviação Portuguesa que honrou Portugal, a Marinha Portuguesa e a Aviação Mundial, e concretize a mudança de nome do Aeroporto da Portela para Aeroporto Gago Coutinho.

Uma mudança de nome que não tem custos para o Estado, como aconteceu nos aeroportos de Pedras Rubras e Ponta Delgada, quando mudaram de nome para Aeroporto Francisco Sá Carneiro e Aeroporto João Paulo II.

Tal como ainda recentemente aconteceu com a Amália e o Eusébio, nunca é tarde para Portugal reconhecer e homenagear um dos seus maiores, o Almirante Gago Coutinho.

Especialista em transporte aéreo, coutinho.mp@gmail.com
 

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