Dois políticos em busca de sustento para a campanha eleitoral

Presidentes do PSD e CDS passaram pela feira de exportação do agro-alimentar português. Foi uma espécie de ensaio geral para Outubro.

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Passos revelou-se metódico na abordagem aos stands, pausado e atencioso para com as trocas de impressões Enric Vives-Rubio
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Portas provou de tudo um pouco e terminou a volta ao pavilhão bem mais atestado do que entrara Miguel Manso

O produtor Ricardo Dâmaso não foi capaz de evitar o trocadilho, enquanto Pedro Passos Coelho provava uma das suas laranjas. “Em 2015, é a vitamina que falta para a vossa campanha”, sussurrou o representante da Cacial.

À superfície, a passagem dos dois mais importantes nomes do Governo pelo Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas (SISAB) parecia pretender dar visibilidade ao esforço de internacionalização do sector agro-alimentar. Mas, como a tirada de Ricardo Dâmaso revelava, o outro objectivo das visitas não escapava a ninguém. Nesta segunda-feira, no Pavilhão Atlântico do Parque das Nações, Passos Coelho e Paulo Portas fizeram também um ensaio à campanha eleitoral para as legislativas que se avizinham este ano.

E as duas visitas tornaram ainda bem visível a postura quase contrastante como os dois políticos de direita enfrentam essa inevitabilidade do jogo político. Um Passos Coelho mais metódico na abordagem aos stands, pausado e atencioso para com as trocas de impressões, contra um Paulo Portas ziguezagueante entre expositores, frenético e sempre pronto para aproveitar cada oportunidade para fazer campanha.

O vinho era uma das diferenças. O social-democrata evitava as provas. No máximo, cheirava as amostras que lhe passavam para a mão e escusava-se polidamente. Já o centrista terminou a volta ao pavilhão bem mais atestado do que entrara. Experimentou de tudo. Um branco de Freixo-de-Espada-à-Cinta, um Alvarinho, um tinto de Monte Cascas, um açoriano Lagido, outro da Quinta do Zambujeiro, entornou de um trago uma oferta das Caves Capelo e mais dois da região de Lisboa. E a sua resistência física ficou ainda mais provada com o iogurte de mirtilo, o café e o sumo de laranja com que foi entremeando a volta enóloga.

Tudo isto num ritmo frenético, de passo acelerado, repetindo aos produtores o seu mantra “força e bons negócios”, virando à esquerda, à direita e, por vezes, travando para voltar atrás. “Vou ali provar um bocadinho de tarte de amêndoa, que não resisto”, justificou num dos seus repentes. E aproveitava cada empresa com história de sucesso nas exportações para puxar dos seus trunfos. Uma das poucas vezes que parou mais de 30 segundos no mesmo metro quadrado foi para confessar o seu “orgulho infinito” na “taxa de execução do PRODER de 96%”, “dez pontos acima da média europeia”. Quanto às queixas e dificuldades, eram despachadas com a rapidez de um firme aperto de mão e uma palmada no ombro.

Já Passos Coelho era mais atencioso. O primeiro-ministro também tinha o seu desbloqueador de conversa. “Os negócios têm evoluído favoravelmente?”, perguntava sempre quando parava. Ouviu, polidamente, o camaronês Jean Tene a criticar as empresas portuguesas por não “terem um marketing agressivo”. Ficou tempo suficiente com um dos representantes da Sabores das Quinas para o ouvir dizer que lá se ia “andando”, apesar das “dificuldades”. Disse mesmo a um dos responsáveis da Mar Fresco que já tinha “falado com o secretário de Estado” sobre o problema do IVA de que este se queixava.

Da feira levou, para a residência oficial, muitos mais recados e reparos do que Portas. Como aquele que o levou a demorar-se a explicar a Carlos Barros, produtor do vinho Dão, Quinta das Camélias, o que estava a fazer em relação a Angola. “É uma dificuldade tremenda para fazer uma transferência para cá”, queixava-se o produtor. “De paleio foi bom, disse que vai ter uma reunião com eles”, resumiu Carlos Barros depois.

Já Paulo Portas levou para o seu gabinete duas pequenas amostras dos “mini-snacks de chouriço” da Porminho que provara com gosto. Era assim — com o gelado de pastel de nata e com a morcela açoriana — que ia equilibrando os líquidos que experimentava. Para controlar o estado de animação de forma a conseguir recitar todas as siglas de sucesso — o PRODER que com os novos fundos comunitários passa a PDR, ou o RPU que será RPB — da sua governação.

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