Conselho de redacção da RTP condena cedência de imagens da manifestação à PSP

Director de informação demitiu-se depois de a PSP ter pedido imagens da carga policial na noite da última greve. Órgão que representa jornalistas lamenta pedido das autoridades.

A versão da direcção de informação foi desmentida pela administração da RTP
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Com a passagem de parte da produção para entidades externas, os trabalhadores temem que esteja em preparação um despedimento colectivo Foto: Pedro Cunha
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A versão da direcção de informação foi desmentida pela administração da RTP Foto: Pedro Cunha

O conselho de redacção da RTP condenou o fornecimento à PSP de “qualquer cópia de brutos de imagens jornalísticas não editadas de reportagem dos jornalistas” da estação de televisão.

“As imagens recolhidas pelas equipas de reportagem da RTP servem apenas para uso profissional e exclusivo dos jornalistas da RTP e não podem ser cedidas ou visionadas por mais ninguém”, lê-se num comunicado do conselho de redacção enviado ao PÚBLICO.

O comunicado surge na sequência da demissão de Nuno Santos do cargo de director de informação na RTP. Este renunciou ao cargo após alegados pedidos feitos pela Polícia de Segurança Pública (PSP) ao canal estatal, solicitando imagens da carga policial, em frente à Assembleia da República, em Lisboa, na noite da greve geral da CGTP no passado dia 14.

O conselho de redacção diz ter sido “surpreendido pela demissão” e pelo comunicado do conselho de administração, em que este informa que “responsáveis da direcção de informação facultaram a elementos estranhos à empresa, nas instalações da RTP, a visualização de imagens dos incidentes verificados após a manifestação em frente à Assembleia da República, no dia da greve geral”. Nuno Santos garantiu que nunca nenhuma imagem saiu da RTP.

O órgão que representa os jornalistas espera “um desfecho célere deste processo”. E destaca a “relação saudável, de frontalidade absoluta e colaboração profícua que manteve com Nuno Santos durante os últimos meses”.

Agora o conselho de redacção explica que foi alertado para “um extenso pedido de cópia dos brutos de reportagem da manifestação de 14 de Novembro” apenas um dia depois do protesto, tendo logo pedido esclarecimentos por escrito à direcção de informação que garantiu que “não facultou imagens a ninguém” e que salvaguardou que “é a fiel depositária dos princípios éticos que norteiam a actividade jornalística”.

Posteriormente, o conselho de redacção teve também uma reunião com o director-adjunto do canal, Vítor Gonçalves, que reiterou que “nenhuma cópia dos brutos de reportagem tinha saído para o exterior da RTP”. A reunião contou também com a presença do sub-director, Luís Castro. Na segunda-feira houve uma nova reunião com Nuno Santos e com Vítor Gonçalves, que deram as mesmas garantias ao conselho de redacção.

“O director de informação explicou que o pedido de imagens visava apenas salvaguardar eventual matéria probatória que, mais tarde, poderia vir a ser utilizada numa queixa motivada por danos causados num carro de reportagem durante a manifestação”, diz o comunicado. Nuno Santos terá também justificado que o pedido da PSP tivesse abrangido todos os brutos da reportagem por “excesso de zelo”.

O conselho de redacção adianta, também, que falou ainda com a comissão de trabalhadores da RTP e com o Sindicato dos Jornalista “no sentido de ser encontrado um esclarecimento absoluto da situação, sob pena de poderem vir a ser colocados em causa a integridade física dos profissionais da RTP e o livre exercício da actividade jornalística”.

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