Falta um "efectivo pilar económico" ao euro, afirma Sampaio

Preocupado com o avanço dos partidos da extrema-direita na zona euro, ex-Presidente da República convoca todos para encontrar uma solução para a Europa, que nunca “será bilateral, mas europeia”.

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Jorge Sampaio Fernando Veludo

O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, está preocupado com a crise de confiança que a Europa atravessa, declarando que a União Europeia precisa de encontrar soluções para dar resposta ao “colete de forças” em que se encontra.

 “A questão está em saber como é que nós saímos deste colete de forças e como é que conseguimos crescer económica e socialmente, mantendo a Europa  com o sentido que ela sempre teve desde a sua fundação”, afirmou Jorge Sampaio, em declarações aos jornalistas, no final da sessão de doutoramento Honoris Causa na Universidade do Porto.

O ex-chefe de Estado recusou falar sobre as recentes eleições na Grécia, que deram uma vitória confortável ao Syriza, e convocou todos os europeus a participarem numa solução para a Europa, onde a extrema-direita vai ocupando espaço. “É à Europa, no seu conjunto, que este desafio está colocado, porque uma Europa que tem o desemprego que tem, que tem as xenofobias que tem, que tem a extrema-direita que tem, que tem eleições perigosas para vários partidos tradicionais, precisa de encontrar uma linguagem que dê satisfação aos cidadãos em geral”, declarou o ex-chefe de Estado, vincando que os “cidadãos não podem virar as costas à construção europeia”.

“A Europa é dos cidadãos e os cidadãos não podem virar as costas à construção europeia e aos partidos políticos”, insitiu, sublinhando: ”Temos todos que fazer, cada um ao seu nível, o esforço necessário para apetrecharmos, como é o caso desta universidade, os cidadãos a desempenharem um papel forte, digno e que responda ao tipo de emprego novo que vai existindo nas cidades e descobrir formas para fortalecer os laços nacionais e transnacionais e nos quais se baseou sempre o projecto europeu”.

Num tom sempre muito sereno, o ex-presidente aludiu às debilidades do projecto europeu, onde falta um “efectivo pilar económico”. “Os anos recentes têm mostrado que o euro é uma construção incompleta. Temos que ter um pilar económico, um pilar financeiro, um pilar social, tudo aquilo que fez construir a Europa dentro da sua diversidade, defendeu, observando que "o euro é uma construção que precisa de ser reforçada em todas as suas vertentes”.

“Uma moeda única é uma coisa muito exigente que está perante economias muito diferentes do ponto de vista da sua capacidade e do seu crescimento. É esta harmonização que procura encontrar-se neste momento e eu espero que ela venha a encontrar-se pelas instituições e criações que estão em curso e que têm que ser aceleradas”, disse.

No seu discurso, no salão nobre da Reitoria da Universidade do Porto, o ex-chefe de Estado deu algum destaque à questão, afirmando que “desde o princípio que falta um efectivo pilar económico na zona euro, nomeadamente um quadro estabilizador que evite os graves custos e desequilíbrios dos programas de ajustamento, impostos aos Estados membros com dificuldades deficitárias”.

Sampaio fugiu às perguntas dos jornalistas que pretendiam saber a sua opinião sobre se a Alemanha deve ter uma posição mais flexível para os Estado membros que foram intervencionados. “Não vou entrar na discussão da Europa alemã ou da sua alternativa. Agora, obviamente, que há diferentes desenvolvimentos, há diferentes opiniões públicas. Como é que se encontra uma forma desenvolvimento económico que possa propiciar o crescimento, o pagamento da dividia externa? Com cada um assumindo as suas responsabilidades”.

“A minha convicção profunda é que as soluções para os problemas que a Europa enfrenta neste momento têm que ser uma solução europeia. Não é uma solução bilateral, não é uma solução trilateral, é uma solução multilateral, é uma solução europeia”, vincou, apelando ao reforço das instituições, ao reforço dos mecanismos e criando outros novos. "Só assim poderemos ter esperança e oxalá estas próximas eleições não venham consagrar a existência de partidos antieuropeus de uma forma que se antevê que possa ser perigosa e crescente”, concluiu.

 

 

 


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