Quando se aproximam as eleições a campanha é mais agressiva

Não cumprir promessas eleitorais não implica sanções. As circunstâncias levam a novos temas que se sobrepõem aos anteriores.

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Luigi Castelli Bruno Lisita

Quando se aproximam as eleições, a campanha é mais negativa e agressiva. Esta é uma das certezas do investigador italiano Luigi Castelli, do centro de Neurociências Cognitivas da Universidade de Pádua, um perito que tem estudado campanhas eleitorais e assessorado forças políticas em Itália.

“O motivo por que, como psicólogo, me interessam, as campanhas negativas é o facto da literatura da Ciência Política não ter conseguido ainda dar uma resposta definitiva sobre a sua utilidade”, diz Luigi Castelli ao PÚBLICO. Até porque, sublinha, o candidato [político] que usa mensagens negativas é pior avaliado. O psicólogo italiano está em Lisboa onde, nesta segunda-feira, proferiu uma conferência no ISPA.

“Os eleitores não gostam dos políticos que atacam os outros, mas a verdade é que isto não inviabiliza as campanhas negativas”, prossegue. A manutenção da agressividade está à margem de considerações políticas. Entra na esfera da psicologia, da “ponta do iceberg” comportamental dos cidadãos, como o perito italiano classifica a situação.

“A agressividade pode ser encarada [pelo eleitor] como capacidade de acção, autoridade e, na prática, quando um candidato é mais agressivo, a tendência é segui-lo”, destaca. O que configura um insuspeito nível de esquizofrenia. O cidadão despreza as campanhas negativas mas é sensível aos seus efeitos, devido ao elevado nível de agressividade que encerram.

“Deste modo”, avalia Luigi Castelli, “se o político tem de ser um manipulador, o decisivo é como ele aparece aos olhos dos eleitores”. Um exemplo ajuda a situar a questão. “Ronald Reagan não sabia nada de política mas era o candidato presidencial ideal, pois era muito bom na construção da sua representação, não por acaso era actor”, refere.

O comportamento não é a única peça deste autêntico puzzle. “Há estudos que demonstram que os traços fisionómicos de um político são importantes para a forma como o eleitorado o encara”, enuncia. “Candidatos com traços fisionómicos associados aos conceitos de força e competência têm grandes probabilidades de vencerem as eleições”, sintetiza.

As campanhas negativas existem em contraposição às positivas. A negatividade acentua-se na segunda fase de uma batalha política assumindo, à medida da proximidade da ida às urnas, uma crescente agressividade.

Mas nem sempre é assim. Existe uma primeira fase de bonança na forma como o candidato se relaciona com os eleitores e a sociedade. “A campanha positiva é aquela durante a qual o político apresenta o seu programa, está apenas centrada no que o político quer fazer”, refere.

 “As mensagens positivas aparecem quando os políticos têm necessidade de se fazerem conhecer”, sublinha o psicólogo. Assim, nesta perspectiva, uma campanha eleitoral resulta da combinação de dois momentos distintos: apresentação ao eleitorado e ataque agressivo ao adversário. “É importante saber como utilizar os dois conceitos de campanha positiva e negativa, pois o recurso extemporâneo à segunda pode ser prejudicial às aspirações do candidato”, observa.

Se o recurso às duas fases – positiva e negativa – da campanha eleitoral implica  ponderação, o psicólogo Luigi Castelli não tem dúvidas quanto ao facto de ser de somenos importância o não cumprimento das promessas. Ou seja, que não tem consequências negativas para o incumpridor. Neste caso, o político.

“Para qualquer um de nós é muito fácil esquecer, razão pela qual são feitas tantas promessas”, analisa o investigador da Universidade de Pádua. Depois, a acção política não se fica num conjunto ou numa promessa. “Com o decorrer do tempo, uma promessa sobrepõe-se à anterior com facilidade”, afirma.

“O político sempre invoca as circunstâncias, aliás um dos atributos dos políticos é conseguir mudar a agenda e basta fazê-lo para se esfumar a promessa não cumprida”, admite. Com ironia, este perito concorda e considera ainda válidas as observações de Quinto Túlio, irmão mais novo de Cícero, sobre a forma de ganhar eleições: “Se faltares a uma promessa, as consequências são incertas e o número de pessoas afectadas é reduzido.”

Era assim no ano 64 Antes de Cristo. E, para o psicólogo italiano, foi assim nos anos 90 do século passado: “Os Estados Unidos viviam momentos de dificuldades económicas e George Bush estava em dificuldades nas sondagens mas, depois de ele declarar guerra ao Iraque na sequência da invasão do Kuwait, a avaliação dos seus actos passou a estar centrada na política externa, a questão económica deixou de ser relevante.”

Foi a combinação, conclui, de uma promessa não cumprida – a resolução de problemas económicos -, com uma nova circunstância, a guerra.

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