Passos diz que PS não oferece maioria estável por recusar coligações

Primeiro-ministro assegura que posição da Alemanha não era de ameaça à Grécia.

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Passos Coelho Miguel Manso

Foi com espírito de missão cumprida que o primeiro-ministro se apresentou na entrevista desta terça-feira à noite à SIC e a acenar com o fantasma da instabilidade após as legislativas. Se a coligação PSD/CDS oferece uma “maioria estável”, já o PS “não tem perspectiva” de coligação à esquerda nem à direita. Passos Coelho, na residência oficial em São Bento, não concretizou os riscos da vitória socialista. Mas voltou a dizer que a proposta de António Costa é um regresso ao passado.

A pergunta da jornalista Clara de Sousa incidia sobre as sondagens – que não dão a vitória clara a nenhum partido – e o risco de se cair num “pântano eleitoral”. O primeiro-ministro deu a sua receita. “Procurei criar condições políticas para ter uma solução credível. O Governo representou a garantia de estabilidade política para que o mandato fosse cumprido e o memorando encerrado”, começou por responder o líder do executivo PSD/CDS.

Colocadas de lado as “tensões” que são “reais” na coligação, Passos Coelho deu uma resposta mais clara: “Nós oferecemos entre PSD e CDS-PP uma maioria estável. O PS, pelo contrário, está a candidatar-se contra nós, não tem hoje nenhuma perspectiva de fazer coligação à esquerda e diz que rejeita qualquer coligação à direita”.

E foi ainda mais cristalino quando defendeu uma maioria absoluta. “É muito importante para Portugal ter um governo estável. Dei tudo o que podia para oferecer aos portugueses uma solução política de estabilidade. Julgo que quem procurar ganhar as eleições deve procurar ganhar com maioria absoluta, seja a coligação que lidero seja o PS. É preferível que haja um ganhador inequívoco de eleições para que Portugal tenha um governo de estabilidade”, sustentou, depois de ser questionado sobre se se demite caso não ganhe as eleições. 

Na mesma linha de raciocínio, Passos Coelho fez a distinção entre a proposta económica da coligação – que “não fará Portugal regredir” e a do PS, que “aprendeu muito pouco com os erros do passado”. Já no início da entrevista, de pouco mais de 45 minutos, o primeiro-ministro tinha apontado críticas ao modelo de recuperação económica do PS – escusando-se a comentar a credibilidade dos seus autores economistas – por se basear na aposta no consumo interno.

Repetiu que são propostas “irrealistas” e lembrou o governo Sócrates, sem o nomear. “É uma estratégia arriscada e que conduz o país a desequilíbrio externo e à não criação de condições para um crescimento que possa aparecer sustentadamente. Isso aconteceu em 2009, com fins eleitoralistas, aumentou-se os salários da função pública, baixaram-se impostos, deu-se mais dinheiro às pessoas para gastar. Foi sol de pouca dura, teve de se cortar tudo”, afirmou.

Já sobre a proposta da coligação, Passos Coelho repetiu o alívio dos cortes e da sobretaxa de IRS nos próximos anos, mas não acelerou o calendário previsto. E voltou a afirmar que é preciso fazer a reforma da Segurança Social e que conta com o PS para isso, sem se comprometer com uma solução para não pôr em causa uma negociação futura.

Passos Coelho recuperou ainda a herança que recebeu em 2011, com um memorando “não cumprível”, com um défice de 2010 subestimado, com um programa que tinha as “contas mal-feitas”. E aí, se tivesse desistido, Portugal estaria “como a Grécia”.

Questionado sobre o epíteto de “mentiroso” que lhe foi colado pela oposição, o primeiro-ministro desvalorizou o que disse na campanha eleitoral (não cortar salários e pensões) e lembrou que o primeiro-ministro anterior, José Sócrates, também só disse o que não estava no programa de ajuda externa.<_u13a_p>

A Grécia já tinha consumido boa parte do tempo inicial da entrevista. No rescaldo do acordo alcançado no domingo passado, Passos Coelho disse esperar “sinceramente” que esteja afastada a saída do euro, voltou a dizer que Atenas teve melhores condições que outros países em dificuldades como Irlanda e Portugal, e que estes dois tiveram uma “atitude colaborativa”.

O primeiro-ministro recusou sempre a ideia de Portugal ter alinhado com a Alemanha e não ao lado de França e Itália. Questionado sobre se estaria disposto a assinar um documento que implicasse a saída temporária da Grécia da zona euro, Passos Coelho explicou que, se não houvesse acordo, o país teria “inevitavelmente” de emitir moeda, já que o Banco Central Europeu estaria “impedido” de dar liquidez aos bancos gregos.

A mesma resposta foi repetida quando questionado sobre a posição de França, que se assumiu contra o Grexit. E garantiu que, relativamente a esse ponto, “a posição da Alemanha não era de ameaça à Grecia, era de discutir”. Sem demonstrar a mesma satisfação pessoal por ter contribuído para uma das soluções finais do acordo, Passos Coelho gracejou quando negou que a sua revelação fosse em resposta ao PS. “Foi a uma colega sua”, disse à jornalista da SIC. <_u13a_p>

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