Os nervos da direita europeia

O que se passa em Lisboa e o perigo de chegar a Madrid.

A direita europeia, que durante dois dias se reuniu em Madrid sob o chapéu do Partido Popular Europeu, está muito nervosa e tem razões para isso. Os resultados eleitorais em Portugal e a situação política daí decorrente têm estado debaixo de fogo, mas o que verdadeiramente preocupa os partidos conservadores da União são as eleições gerais em Espanha, marcadas para Dezembro. O que temem é a influência que o exemplo português possa vir a ter no contexto das negociações que naturalmente ocorrerão, caso nenhum partido obtenha a maioria absoluta nesse sufrágio – como, de resto, indicam as sondagens que têm vindo a ser publicadas no país vizinho. Diga-se, aliás, que lá, como cá o futuro governo deverá resultar de uma coligação entre vários partidos, e também em Espanha é o PP, partido da direita actualmente no poder, a sentir mais dificuldades em encontrar aliados, dada a indisponibilidade dos seus parceiros tradicionais ligados às autonomias.

Ora a hipótese de formação de um governo de esquerda em Portugal cria condições objectivas para uma contaminação política tendente ao enfraquecimento da influência do PPE, o que também explica o radicalismo de alguns dos seus dirigentes. O que não é aceitável é a notória intromissão desses dirigentes em assuntos que apenas dizem respeito aos portugueses e ao seu direito inalienável de encontrarem eles próprios as soluções que entenderem de acordo com a sua Constituição e as leis em vigor. Sobretudo quando tais interferências usam e abusam de argumentos primários baseados em ameaças e com o objectivo de espalhar o medo, como fizeram Joseph Daul, presidente do PPE, ou António Lopez-Isturiz, secretário-geral do mesmo partido. O recurso a este argumentário também é, por si só, sinal da fragilidade do actual discurso do establishment europeu, que já não consegue disfarçar a sua falta de soluções e é incapaz de mobilizar e seduzir os cidadãos da União em torno de projectos e causas comuns.

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