"O país não se desenvolve perdendo os mais qualificados", alerta António Costa

Em clima de pré-campanha, Jerónimo de Sousa compara Partido Socialista a um "caranguejo moído".

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António Costa Daniel Rocha

O secretário-geral do PS, António Costa, defendeu este domingo que a modernização e o desenvolvimento do país estão dependentes da fixação dos jovens qualificados, que acabam por emigrar por falta de emprego ou para fugir à precariedade.

"O país não se moderniza perdendo os seus melhores, o país não se desenvolve perdendo os mais qualificados. O país só se desenvolve se conseguir fixar esse capital humano, esse saber, esse conhecimento, resultado do investimento do Estado, das autarquias e, sobretudo, das famílias", alegou.

Durante um encontro que juntou militantes e simpatizantes do Partido Socialista em Viseu, António Costa sublinhou que grande parte dos que hoje emigram são jovens e qualificados.

"E não emigraram todos por falta de emprego: muitos emigraram mesmo tendo emprego, ou melhor, mesmo tendo ocupação, mas o que lhes era oferecido era a precariedade, salários indignos e condições indignas", sustentou.

De acordo com o líder do PS, durante alguns anos os portugueses "habituaram-se a ouvir falar da imigração com i e não de emigração com e". "Todos julgámos, a minha geração julgou que isso era algo que tinha ficado nos anos 60 e que não mais voltaria. Mas a verdade é que o retrocesso foi tão grande que é preciso regressar a 1966, há 50 anos, para termos um ano com tantos emigrantes, tantos portugueses e portuguesas a sair do país como tivemos em 2013", apontou.

Ao longo do seu discurso, que durou aproximadamente meia hora, o líder socialista aproveitou para evidenciar que "o Governo fracassou nos seus objectivos" nos últimos quatro anos.

"Não temos hoje melhores finanças públicas, nem temos hoje melhor economia com mais crescimento e mais emprego, nem melhores condições de vida", referiu. No seu entender, "a maioria e o Governo não aprenderam com os erros" e "não têm vontade de mudar de rumo".

"A conclusão a que temos de chegar, no final destes quatro anos, é de que falharam na gestão da dívida, falharam na economia, não aprenderam a lição e não querem mudar: não querem seguir outro rumo e, pelo contrário, mantêm um radicalismo ideológico que os vai fazer prosseguir o mesmo caminho. A única forma é mudar de Governo e mudar de política", frisou

António Costa aproveitou ainda para informar que o PS vai apresentar em breve "um documento inovador", com a estratégia a desenvolver nos próximos quatro anos.

"Pretendemos a participação dos cidadãos. É falsa a ideia de que os portugueses estão desinteressados da política. O que os portugueses estão desinteressados é da politiquice", sublinhou.

O secretário-geral do PS defendeu a necessidade de se elaborar "um programa mobilizador", que não seja só do partido, mas em que o conjunto da sociedade se reveja. "A participação é essencial. Os partidos são acima de tudo associações de cidadãos", concluiu.

PS "nem é carne nem é peixe"
Um pouco mais a sul, num almoço-convívio em Castelo Branco, o secretário-geral do PCP apontou baterias ao PS,  considerando que o partido "nem é carne nem é peixe", parecendo "um caranguejo moído".

"Neste quadro de objectivos claros por parte da direita e deste PS que nem é carne nem é peixe, que mais parece um caranguejo moído em termos de definição de uma política alternativa, nós queremos dizer 'aqui está a CDU'. Há razões para estarmos confiantes", afirmou Jerónimo de Sousa, referindo-se às próximas legislativas..

Lembrando que as eleições legislativas são já em Setembro ou Outubro, o líder dos comunistas referiu que "esta batalha exige muito de cada um". Num discurso de pré-campanha, Jerónimo de Sousa referiu, que decorridos três anos da aplicação do "pacto de agressão", o país está hoje mais endividado, mais empobrecido, com mais desemprego e com mais emigração.

"Esta será a síntese das sínteses que derrubará qualquer propaganda que afirma que o nosso país está no bom caminho e que está a dar a volta", adiantou.

O secretário-geral do PCP explicou que esta ideia da libertação da troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) é uma "mistificação" e referiu que, se é verdade que se foram embora, deixaram cá a sua política.

"A União Europeia e o Fundo Monetário Internacional deram já em Janeiro as suas recomendações, que o Governo, naturalmente, toma imediatamente como as suas orientações. Dizem que estão a dar a volta, mas estão a discutir o chamado programa de reformas que, no essencial, vem desmentir esta teoria", disse.

Jerónimo de Sousa acrescentou que aquilo que está proposto são mais cortes na educação, na saúde e na proteção social, o aumento da carga fiscal para os trabalhadores e micro e pequenos empresários e a redução da carga fiscal para os grandes grupos económicos.

"O PCP propõe uma política alternativa. Já não podemos dizer o mesmo do PS, que tem um drama: está prisioneiro da sua assinatura do pacto de agressão, da política dos PEC [Programa de Estabilidade e Crescimento], da sua identificação com as políticas da União Europeia", afirmou.

Apesar deste "aprisionamento e condicionamento" do PS, referiu Jerónimo de Sousa, os socialistas sabem o que querem.

"Mas, continuando amarrado à política da União Europeu, o PS não pode querer sol na eira e chuva no nabal, não pode afirmar-se como uma política de esquerda, de rutura e de mudança, porque está comprometido com esta política e por isso, anda numa indefinição. Nós temos uma proposta de rutura com esta política", declarou.

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