No Baixo Alentejo o “povo sabe o que quer”, mas Louçã pediu para ninguém optar pelo silêncio

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Daniel Rocha (arquivo)

Foi a única jornada alentejana do Bloco de Esquerda (BE) nesta campanha e o roteiro, traçado cirurgicamente, levou os bloquistas aos lugares “mais esquecidos” do Baixo Alentejo. Mas Francisco Louçã esteve lá, como sublinhou o próprio, nos locais onde “ninguém que tenha responsabilidade aparece”, onde “não se fazem inaugurações”, onde o número de eleitores das povoações não compensa as longas viagens sob um calor escaldante.

Não admira, por isso, que a aldeia de Rio de Moinhos, no concelho de Aljustrel e com pouco mais de mil habitantes e cerca de 700 eleitores, tenha sido incluída na agenda do dia.

Eram quase 16h quando a pequena comitiva bloquista atravessou as ruas da aldeia, chamando a população, maioritariamente idosa, para um pequeno comício na junta de freguesia, presidida há muitos anos pela CDU.

Louçã sabia que estava em território comunista, em terra de antigos mineiros e de trabalhadores da lavoura. E,adaptou a sua mensagem ao local (sabe sempre de antemão os principais problemas de cada zona que visita, numa táctica de sedução que raramente não produz resultados favoráveis).

Em Rio de Moinhos visitou um centro de dia cujos utentes são, na sua maioria, antigos mineiros. E, já no salão da junta, falou de pensões, da “injustiça” aplicada àqueles que começaram a trabalhar “aos oito, aos nove, aos dez anos”, do aumento do desemprego e do consequente êxodo dos mais jovens. Cada pessoa é um voto. E Louçã, que tem vindo a incluir nos seus discursos um apelo ao combate à maioria absoluta do PS, quer que os eleitores “não se calem”, que não se quedem “no silêncio”, que digam “tudo o que têm a dizer sobre José Sócrates, Manuela Ferreira Leite, Cavaco Silva e Durão Barroso”. Foi isso que pediu em Rio de Moinhos. Que a voz de cada um se faça ouvir no dia 27, no momento do voto. “A notícia que ainda não chegou lá em cima é que este povo sabe o que quer.”

Esta mesma ideia central – um apelo não explícito ao voto no BE, ultimamente sustentado na necessidade de não dar a maioria absoluta ao PS – já tinha sido referida num almoço com apoiantes em Serpa. E foi repetida, ao fim da tarde, no comício ao ar livre em Almodôvar, onde o BE instalou o seu púlpito junto a um nicho com Cristo na cruz, pertencente à Santa Casa da Misericórdia local.

Ali, um reduto do PSD, Louçã dirigiu-se especificamente aos eleitores comunistas, lembrando a “memória importante da esquerda” que, em todo o Alentejo, “se bateu contra a ditadura”. Agricultura e Educação foram os temas escolhidos. O concelho recebeu uma nova fornada de professores, como contou ao PÚBLICO o proprietário de um minimercado.

Perante uma praça que, a pouco e pouco, ficou cheia de gente, Louçã defendeu uma nova versão da reforma agrária, desta vez propondo a criação de um “banco público de terras”. “Agora o latifúndio está novamente no Alentejo. (…) É terra que não produz, não dá trabalho, não dá pão. Se não é produzida, deve ser alugada, vendida, a um banco público de terras”, afirmou. E de seguida, dirigindo-se aos professores, pediu para “acabar com a maioria absoluta” e alertou para a “coragem” que será exigida após as eleições. Porque surgirá “o receio de uma esquerda forte”, explicou, sem nomear o PS

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