Marcelo visita o que resta do caminho-de-ferro alentejano

O Presidente vai viajar meia hora numa automotora dos anos 60, entre Vila Nova da Baronia e Beja.

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A estação de Beja é um dos extremos da linha onde o Presidente vai desembarcar após uma viagem de meia hora Nuno Morão

Quando às 11h39 (a fazer fé no programa) deste sábado, o Presidente da República embarcar em Vila Nova da Baronia rumo a Beja, para uma viagem de comboio de meia hora, estará a visitar uma das últimas linhas de caminho-de-ferro do interior alentejano. Um ramal de 63 quilómetros entre Casa Branca, no concelho de Montemor-o-Novo, e Beja que só ainda não fechou por terminar numa capital de distrito. Ainda assim, isso não é garantia de nada, porque também Bragança e Vila Real são capitais de distrito e ficaram sem comboios.

A automotora em que Marcelo Rebelo de Sousa viajará foi construída pela Sorefame em 1966. É velha de 50 anos, mas sofreu uma modernização nos anos 90 que lhe colocou novos motores e uma segunda intervenção na passagem do século, que a dotou de ar climatizado, melhores assentos e lhe deu um ar mais modernaço.

Ainda assim, as automotoras UDD (Unidades Duplas a Diesel) que prestam serviço neste ramal, dando ligação em Casa Branca aos Intercidades de Évora-Lisboa, avariam frequentemente. Meio século é muito tempo. Mesmo para um comboio.

A CP não tem dinheiro para comprar novas composições e queixa-se que os fundos comunitários decididos em Bruxelas para o sector ferroviário privilegiam as infra-estruturas (investimentos em construção e modernização de novas linhas férreas) em detrimento do material circulante, para o qual não há verbas.

Mas por parte da Refer (agora designada Infra-estruturas de Portugal, desde que foi absorvida pela Estradas de Portugal) a situação não é melhor: Beja é servida por uma linha em via única, sem sinalização electrónica, em que o tráfego é gerido pelos ferroviários que telefonam para a estação seguinte para pedir avanço aos comboios.

O pior é que não se vislumbram melhorias, porque o Plano de Investimentos Ferroviários, apresentado em Fevereiro pelo ministro do Planeamento e Infra-estruturas, Pedro Marques - e que prevê a modernização e construção de 1200 quilómetros de linhas - não contempla qualquer melhoria para os carris que servem Beja.

E é por esta linha ser um ramal afastado da modernização que a CP deixou cair os Intercidades - que já existiram – de Beja para Lisboa. Até 2010 era possível entrar num comboio em Beja e sair no centro de Lisboa, mas desde 2011 que a transportadora pública acabou com esse serviço e pôs as velhas automotoras (pintadas com outra cor e com novos assentos) a dar ligação ao Intercidades de Évora.

Mas este transbordo não incentiva o uso do modo ferroviário, que assim perde passageiros para o autocarro. Este não é tão rápido: demora entre duas horas e um quarto a três horas de viagem, contra as duas horas do comboio.  Mas oferece uma viagem directa entre Beja e a capital, sem trocas pelo caminho. Os preços de ambos os modos rondam os 14 euros.

Segundo a CP, foram transportados no ano passado entre Casa Branca e Beja 126 mil passageiros, que proporcionaram receitas de 318 mil euros. Um valor que, contudo, só cobre 18% das despesas de exploração e para as quais a empresa não recebe quaisquer indemnizações compensatórias do Estado.

O Alentejo é uma das regiões do país com menos ferrovia. Desde o fim dos anos 80 nela deixaram de fazer serviço de passageiros nove linhas e ramais num total de 643 quilómetros, dos quais 447 fecharam definitivamente estando os restantes afectos a mercadorias.

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