Houve ditos e não ditos para mostrar uma esquerda unida pelo Orçamento

O Orçamento do Estado para 2017 foi aprovado na generalidade esta sexta-feira. Ficam cadernos de encargos para a especialidade, mas à esquerda não houve críticas, só à direita.

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O segundo Orçamento de Costa foi aprovado pela esquerda Rui Gaudêncio

"Não foi ainda neste Orçamento que se desfez o colossal aumento de impostos da redução dos escalões de IRS". Esta frase tinha sido preparada no discurso de Catarina Martins, mas não foi dita. Por já ter cumprido o tempo ou por fugir ao guião, o que é certo é que seria das poucas críticas que se ouviram do lado esquerdo do hemiciclo, no longo dia de debate que culminou como esperado: com o OE para 2017 aprovado por PS, PCP, BE e PEV , com os votos contra de PSD e CDS e abstenção do PAN.

É certo que a cada intervenção do PCP e do BE se ia ouvindo a habitual deixa de que ainda falta trabalho para fazer na especialidade (e o PCP até deixou pendente o voto final de alterações ao documento) e que este Orçamento não é perfeito, não era o que fariam, mas defenderam-no a (quase toda a linha). "O Orçamento que não anda para trás, mas que não avança tanto quanto a dimensão dos problemas do país", disse Jerónimo de Sousa. "Falta fazer tanto, mas ninguém pode negar o tanto caminho feito", considerou Catarina Martins.

E António Costa, que esteve os dois dias calados a ouvir os argumentos de ambos os lados e só subiu ao palanque já sem possibilidade de réplica para a oposição, aproveitou o ambiente de comunhão à esquerda para desfiar críticas duras a PSD e CDS, sobretudo a Passos Coelho a quem disse que "o diabo é mesmo só o sonho do PSD, cuja estratégia de sucesso é só esperar pelo insucesso do país".

Mas o modo como se dirigiu à oposição não é de menosprezar. Costa puxou do sarcasmo para falar daquilo que considera serem as contradições do PSD. "Às segundas-feiras de manhã dizem que o PS está capturado pelo radicalismo do BE e do PCP, mas na segunda à tarde já são o BE e o PCP que estão domesticados pelo PS. Às terças-feiras de manhã dizem que este Orçamento é eleitoralista, mas na terça-feira à tarde já dizem que é austeritário" e assim continuou com uma contradição para cada dia da semana, desde diferenças sobre o que defendem sobre o investimento público ou o aumento de pensões. Por fim, o remate polítco: "Ao domingo, deixem os portugueses em paz".

Uma lei que ajuda o défice e a Galp

Passos Coelho também só falou por uma vez, num discurso menos político e cheio de indicadores que o presidente do PSD considera não estarem a correr bem ao Governo. Na intervenção que fez, o líder do PSD até acredita que o Governo vai cumprir as metas do défice, mas só por causa das cativações (retenção de verbas orçamentais), do programa de recuperação de dívidas (o chamado "perdao fiscal") e da "reavaliação de activos", um decreto-lei que foi aprovado na quinta-feira e que já de manhã, Maria Luís Albuquerque tinha dito que "beneficiava a Galp". Já Telmo Correia, do CDS lembrou que as "cativações" já levaram "já levaram a cortes nos serviços públicos, ao caos nos transportes, a problemas nos hospitais e até ao encerramento de escolas"

Perante todo o cenário negro, o ex-primeiro-ministro considerou ser "frustrante" o valor de crescimento de 1,2% do PIB. "Não conseguem prometer ao país que vão pôr o país a crescer tanto como fizeram PSD e CDS em 2015? Parece mal, doutor Costa". 

A partir de agora, os partidos dedicam-se aos detalhes do documento. Os Verdes vão insistir nos benefícios fiscais para quem usa transportes públicos e no reforço de meios para a conservação da natureza, o PAN vai apresentar 40 propostas e o PCP já deixou a indicação de seis (algumas delas com abertura por parte do Governo): aumento extraordinário de dez euros para todas as pensões; redução das tarifas da electricidade de gás; mexidas nas deduções da educação; contratação de assistentes para as escolas, hospitais e empresas de transporte; reduzir o Pagamento Especial por Conta (PEC) para as pequenas e médias empresas e "tributar de forma mais justa o grande capital".

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