João Salgueiro e César das Neves consideram que pode vir aí um novo resgate

Ex-ministra das Finanças pergunta por medidas adicionais, João Salgueiro recusa "fazer de profeta".

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Maria Luís Albuquerque perguntou sobre as medidas adicionais Miguel Manso

O antigo ministro das Finanças João Salgueiro considerou esta sexta-feira que um novo resgate financeiro a Portugal "pode ser inevitável" e o professor universitário João César das Neves defendeu mesmo que se está "à beira de um novo resgate". Os dois economistas assumiram esta posição nas jornadas parlamentares do PSD, em Santarém. 

No início da sua intervenção, João Salgueiro defendeu que se aproxima uma mudança profunda em Portugal e disse que já se começa a pensar que um quarto resgate "pode ser inevitável". Durante o período de debate com os deputados, César das Neves colocou esse cenário como uma certeza: "Está-se à beira de um novo resgate em Portugal, e certamente uma crise muito mais vasta do que isso. A Europa está fragilizadíssima e, portanto, estamos por meses de ver aí uma coisa mesmo séria".

Segundo César das Neves, o Governo do PS está consciente disso, e por isso desvaloriza "os disparates" do processo de aprovação do Orçamento do Estado para 2016. "O que eles estão a pensar é: 'Vem aí uma trovoada de um tamanho tal que qualquer disparate que a gente faça antes desaparece.' Eu acho que é isso".

Convidado para intervir num painel sobre Caminhos Seguros para o Crescimento Económico Duradouro, o professor universitário descreveu Portugal como "um país rico de pobres", que está "em vias de extinção" devido à falta de nascimentos e à emigração, com uma economia prejudicada pela "evasão fiscal" e "rigidez no mercado de trabalho" e em que "está tudo falido".

César das Neves terminou a sua intervenção com uma citação de Salazar sobre "riqueza ilusória" que termina com a seguinte afirmação: "Todos estes males têm somente uma cura – a estabilização da moeda, e esta é impossível, independentemente da solução do problema financeiro".

Por sua vez, João Salgueiro começou por elogiar os sociais-democratas. Perante a presença do presidente do PSD e ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e de vários ministros do anterior Governo PSD/CDS-PP, o economista disse que via na sala várias pessoas que contribuíram para "ajudar o país a viver melhor e a ter mais sucesso". Depois, manifestou "apreço" pelos deputados do PSD, que "estão a participar numa experiência que não é fácil ", acrescentando: "Tenho visto as intervenções de alguns na comunicação social muito assertivas e muito convincentes".

Logo em seguida, o antigo dirigente do PSD sustentou que "o país, mais uma vez, está na véspera de ter de mudar de cenário". "Quem já viveu mais anos do que gostaria infelizmente está lembrado de situações idênticas, em que se tem a sensação de que as soluções estão esgotadas e que vai ter de haver uma mudança se calhar mais funda do que nós pensaríamos inicialmente", prosseguiu, apontando como exemplo a descolonização, dizendo que "foi uma lição de que as mudanças que não se fazem a tempo dão rupturas muito mais graves, mais tarde ou mais cedo".

Neste contexto, afirmou que houve "um terceiro resgate que já acabou, mas ainda não está concluído, e se calhar já começa a pensar-se que um quarto pode vir a ser inevitável". "Isso é sintoma de um esgotamento do sistema, que mostra que neste momento tudo o que pensemos não é de mais", considerou.

Medidas adicionais serão efectivas?
Na parte de debate, a ex-ministra das Finanças e agora deputada Maria Luís Albuquerque referiu que "vai haver um conjunto de medidas supostamente contingentes a acordar entre o Governo e a Comissão Europeia para fazer face a riscos de execução orçamental". "Eu pergunto-me se podemos considerar que essas medidas serão efectivamente contingentes, ou se o seu mero desenho e anúncio não implica necessariamente que se venham a aplicar, porque são introduzidas de imediato no comportamento dos agentes económicos. Eu queria saber a opinião de ambos, se possível", pediu a ex-ministra.

João César das Neves não se pronunciou sobre o tema, enquanto João Salgueiro declarou: "As medidas futuras são sempre contingentes, ou porque são de mais ou porque são de menos. Ninguém pode prever se as que se estão a anunciar são de mais ou são de menos". "A probabilidade é que sejam de menos, mas até podem ser de mais, se entretanto houver outro género de problemas. Quando há uma coisa que se levanta, aumenta a probabilidade de que se verifique. Agora, se chega ou se é de mais, não queria estar a fazer de profeta", completou o antigo ministro das Finanças.

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