Eanes, Soares, Sampaio e Balsemão: o passado já não (n)os divide

Quando falaram do presente, os ex-presidentes da República receberam palmas da assistência, que encheu o Auditório da Fundação Gulbenkian.

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Desta vez, Mário Soares não estava disposto a falar de actualidade. "Já basta o que basta", atirou, para uma plateia que esperava mais. A única vez em que se permitiu um comentário sobre o presente, foi muito aplaudido: "Quando os militares de Abril não vão ao Parlamento, eu também não vou", disse, lembrando a polémica sobre aos 40 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que leva a que, pelo segundo ano consecutivo, a Associação 25 de Abril recuse o convite para estar presente na sessão parlamentar comemorativa.

O painel que encerrou a conferência "25 de Abril, 40 anos depois", organizada pelo Expresso, pela SIC e pelo Instituto de Ciências Sociais, juntava os três ex-Presidentes da República eleitos, em democracia, e era moderado pelo ex-primeiro-ministro, e anfitrião, o presidente da Impresa, Francisco Pinto Balsemão. Chamava-se "Valeu a pena?"

São raras as ocasiões públicas em que estes homens se tenham encontrado para debater. Muito menos no tom descontraído que levaram, hoje, à Gulbenkian. No fim da primeira ronda, em que recordaram o "seu" 25 de Abril, em 1974, Soares revelou ter "muita consideração pelo senhor Presidente Eanes" em quem, garante, votou "duas vezes". Eanes agradeceu "as referências simpáticas". E Sampaio interrompeu: "E os votos?"

Eanes não os agradeceu. Os votos, afinal, são secretos e estes foram concedidos em votações realizadas em 1976 e 80. Entre Soares e Eanes, na mesa, estava também Balsemão, que liderou um executivo da AD que não teve, propriamente, uma coabitação pacífica com Belém. Esse passado ainda guarda alguns "detalhes" controversos. Nada que impeça a reunião, e os aplausos cruzados na mesa. 

Eanes aproveita o silêncio de Soares sobre o presente e faz o retrato mais crítico dos nossos dias: "É necessário sair desta crise sem agredir a unidade popular"; "Quando a juventude emigra por necessidade está a dizer que não acredita no presente"; "Haver portugueses com fome é uma coisa que nos ofende e que não devíamos permitir"; "Sem Estado Social o pluralismo, a tolerância, tudo isso está em perigo". 

Jorge Sampaio encerrou as intervenções depois disto. "Não quero parecer à direita do senhor General", disse, com a plateia a rir.

O mais novo dos ex-Presidentes mostrou-se empenhado em "preservar o Estado Social" e, sobretudo,  em "não reduzir tudo isto a um Estado mínimo". Defendeu que "não é com salários baixos, é com pessoas qualificadas" que se pode desenvolver o País. E fugu à ideia de "pacto" ou de "compromisso" partidário ("já estou queimado com a palavra") defendendo, antes, um "compromisso de baixo para cima", em torno de "ideias a 20 anos".

A crise da Europa, referida por Eanes e Sampaio, deu o mote para o encerramento, por Balsemão: "A Europa que existe não é a que serve os nossos objectivos."

 

 

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