PSP liberta dois manifestantes detidos no Porto sem os acusar

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Paulo Pimenta

A PSP libertou pouco depois das 22h00 os dois jovens detidos no final da manifestação deste sábado no Porto, sem os acusar de nada. A polícia, que indicou que os visados eram suspeitos do crime de dano por alegadamente terem atirado balões de tinta contra a fachada de bancos e monumentos públicos, acabou por não os deter formalmente. O protesto em frente à esquadra da Belavista, por onde os jovens passaram, terminou às 22h05 após a PSP ter informado o advogado destes que não sabia do paradeiro dos seus clientes e que seriam estes a contactá-lo.

Uns minutos depois, um dos detidos, professor de música do ensino regular com 28 anos, contactou um amigo a informá-lo que estava iminente a sua libertação. Contou que a polícia lhe tinha tirado impressões digitais  e fotografias, mas que não tinha sido constituído arguido.

O oficial de dia da PSP, subcomissário Antunes, confirmou pouco antes das 23h00 que os dois jovens já não estavam em instalações policiais, adiantando que estes estiveram apenas a ser identificados na unidade de política técnica.

Um dos dois detidos pertencia a um grupo de três manifestantes que estavam a realizar uma performance vestidos com uma braçadeira a dizer troika. Nessa altura começaram a ser atiradas bolas de tinta aos alegados representantes do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, havendo dúvidas se tal fazia ou não parte da sátira teatral.

A verdade é que algumas fachadas de bancos foram atingidas pela tinta, o que levou a polícia a tentar identificar os membros do grupo. A iniciativa gerou alguma tensão, já que muitos dos que estavam a assistir não se aperceberam do motivo que levou a polícia a identificar os manifestantes.

A PSP destacou imediatamente mais agentes para o local, alguns dos quais correrram desde a Praça de Liberdade. A corrida alertou muitos dos manifestantes que começaram a concentrar-se junto à estação da Trindade. Com a tensão a crescer, a PSP montou um cordão policial à volta de um grupo de cerca de 30 pessoas, o que ainda agravou mais a tensão. Depois de pressionada por alguns manifestantes a polícia acabou por recuar e os protestantes dispersaram.

António Martins, 55 anos, profissional de seguros, assistiu a tudo. "Houve uma atitude perfeitamente arrogante por parte da polícia", lamenta. O manifestante diz que acompanhou os últimos movimentos do grupo que seguia à sua frente e garante não terem feito nada de ilegal. Por isso é muito crítico da actuação do corpo de intervenção da PSP. "A polícia tratou os jovens indignamente. Empurraram-nos e falaram-lhes de forma arrogante", descreve. José Ribeiro, 54 anos, tem uma versão idêntica e mostra o casaco rasgado um dano que atribui à polícia de intervenção.  

Os jovens foram levados para a Esquadra da Belavista, perto do Estádio do Dragão. "Estão a decorrer diligências de identificação por suspeita de crime de dano, por terem atirado balões de tinta contra bancos e monumentos públicos, causando prejuízo a terceiros", disse então ao PÚBLICO o subcomissário Antunes. 

O subcomissário disse ainda que os dois detidos "tentaram coagir os agentes a não proceder à identificação", ainda na Trindade – os dois jovens não teriam documentos de identificação com eles. Entre as dezenas de pessoas que aguardavam, à porta da esquadra, a saída dos manifestantes, havia quem relatasse disparos de tiros para o ar na altura das detenções. A PSP diz que se trataram de engenhos pirotécnicos atirados pelos próprios manifestantes.

Uma manifestante envolvida na sátira teatral, que não se quis identificar, disse ao PÚBLICO que os agentes da PSP escolherem de forma aleatória os elementos que detiveram. E garante que os colegas não cometeram qualquer ilícito, precisando que nenhum dos dois atirou balões de tinta contra a fachada de bancos ou monumentos públicos.
 

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