António Costa diz que PS ainda não é “alternativa clara e imediata” ao Governo

Presidente da Câmara de Lisboa vê no recorde de votos brancos e nulos "um espaço de alternativa que ainda está por mobilizar" e que pode ser determinante.

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Apesar do resultado das eleições autárquicas de domingo, em que o PS conquistou 150 presidências de câmara, o socialista António Costa considera que o seu partido ainda não é uma “alternativa clara e imediata à actual solução governativa”, justificando que vê tanto na abstenção como nos votos brancos e nulos “um espaço de alternativa que ainda está por mobilizar”.

Em declarações durante o programa Quadratura do Círculo na SIC Notícias, o reeleito presidente da Câmara de Lisboa, com 50,9% dos votos, afirmou que “o PS tem muitas razões para estar contente” e elogiou António José Seguro, dizendo que “o secretário-geral empenhou-se decididamente na campanha, percorreu o país todo, batalhou, lutou”.

“Ganhámos em votos e em câmaras mas há bastante caminho a fazer. Ultrapassámos a fase de queda que muita gente estimava há dois anos que depois da derrota das legislativas [com José Sócrates] se podiam pressagiar longas décadas de escuridão para o PS”, acrescentou António Costa no mesmo programa.

Contudo, para o socialista ainda não é claro que da vitória do PS nas autárquicas resulte que o partido seja uma alternativa ao executivo de Pedro Passos Coelho. “Isso traduz-se na dimensão da abstenção e no aumento brutal dos votos brancos e nulos e a que as pessoas não têm dado a devida atenção e que juntos têm mais do que o Bloco de Esquerda. Isso é muito significativo”, insistiu.

“O branco e nulo é alguém que vence o incómodo de estar em casa, sai à rua, vai à urna para dizer algo. Isso significa que há aqui um espaço de alternativa que ainda está por mobilizar”, sublinhou.

Nunca tanta gente ficou em casa em eleições autárquicas e nunca houve tantos votos brancos e nulos num acto eleitoral para eleger autarcas, como noticiou o PÚBLICO nesta semana. A taxa de abstenção foi de 47,4%, segundo os dados da Direcção-Geral da Administração Interna.

Igualmente significativo foi o peso dos votos brancos e nulos, que atingiram máximos históricos em eleições autárquicas. Nas eleições de domingo, foram contabilizados 193.357 votos brancos (3,87%) e 147.151 nulos (2,95%). Juntos, os brancos e os nulos somam 6,82%, menos 0,8 pontos percentuais do que os independentes, que venceram em 13 câmaras neste acto eleitoral. A percentagem de votos brancos mais do que duplicou em relação há quatro anos e bateu o máximo de há oito, quando 138.449 eleitores (2,6%) entregaram o boletim em branco.

E o mesmo aconteceu com os votos nulos, que atingira os 147.151, bem mais do que anteriores recordes (2,1% nas autárquicas de 1976 e mais de 91 mil nas eleições de 1982).

Reforçar confiança com movimentos sociais
Já na reunião da Comissão Política Nacional do PS, que fez uma avaliação consensual sobre os resultados obtidos por esta força política nas eleições autárquicas do passado domingo, António Costa, segundo adiantaram algumas fontes à Lusa, advertiu que há um clima de desconfiança entre os eleitores e os partidos políticos e defendeu que o partido deve envolver-se mais nas suas ligações aos movimentos sociais.

De acordo com membros da Comissão Política do PS, António Costa sustentou que os resultados das eleições autárquicas, com o crescimento de movimento independentes, assim como a taxa de abstenção verificada, mostram uma clara desconfiança dos eleitores em relação aos partidos. Nesta reunião, Costa recusou-se a falar aos jornalistas tanto à entrada como à saída.

Já o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, considerado próximo de António Costa, também à Lusa, evidenciou que o PS tem de ser um “partido plural”, onde as pessoas “têm maneira diferente de analisar os desafios que se colocam ao país”. “É evidente que, para o PS, ainda há muito caminho a percorrer. O PS tem de se constituir como uma alternativa credível. Isso é um trabalho que ainda não está concluído”, referiu. Sousa Pinto defendeu depois que o PS “tem de reforçar a sua relação de confiança com importantes sectores do eleitorado, desde logo o eleitorado urbano”.

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