Cavaco recusa responder a Soares por “respeito e dignidade”

Actual Presidente da República diz que nunca falará dos seus antecessores. Também o primeiroo-ministro recusou comentar, mas rejeitou a ideia de que haja uma instabilidade social crescente.

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Cavaco optou por adiar decisão sobre referendo Nuno Ferreira Santos

Apesar de ter sido o alvo principal das duras críticas de Mário Soares na conferência da Aula Magna esta quinta-feira à noite, o Presidente da República Cavaco Silva recusa comentar por, justifica, “respeito e defesa da dignidade de um órgão de soberania que é a Presidência da República”.

Questionado pelos jornalistas no final de uma visita à Nokia Solutions and Networks, em Alfragide (Amadora), sobre uma reacção ao que foi dito por Soares mas também por outras personalidades na conferência “Em defesa da Constituição, da democracia e do Estado”, Cavaco recordou o “grande respeito” que tem pelos antigos Presidentes da República.

“Por respeito e defesa da dignidade de um órgão de soberania que é a Presidência da República, eu nunca fiz nem nunca farei qualquer comentário sobre o que dizem os antigos Presidentes da República”, afirmou o chefe de Estado.

E vincou: “Eu não sou comentador e nunca faço comentários. Têm-me dito, e li no jornal que existem cerca de 80 [comentadores]. Fazem pela vida e eu não me intrometo nisso.”

Na Aula Magna, Mário Soares não se cansou de exigir a saída de Cavaco Silva e cada vez que o fazia, a assistência repetia em bloco a palavra “demissão”. O histórico socialista e antigo chefe do Governo e de Estado acusou Cavaco de inércia perante as políticas do Governo e de proteger Passos Coelho e o PSD. Uma inércia que, avisou Soares, trará a curto prazo uma onda de “violência”. “Por isso, ouso dizer, patrioticamente, senhor Presidente demita-se!”

Também o primeiro-ministro recusou comentar as intervenções de Mário Soares. “Tenho um enorme respeito pelo doutor Mário Soares, que é uma figura incontornável da democracia portuguesa e da nossa República”, afirmou Pedro Passos Coelho aos jornalistas no Algarve, onde participou numa conferência.

Mário Soares, realçou Passos, “foi não apenas uma personalidade decisiva na construção do nosso regime democrático como foi chefe de Governo em condições particularmente difíceis, foi Presidente da República durante dez anos. É uma personalidade que respeito demasiado para nesta altura fazer comentários sobre as suas afirmações.”

Passos Coelho rejeitou a ideia de que há uma instabilidade social crescente e que se esteja a caminhar rapidamente para uma situação de violência insustentável, como Mário Soares prevê. “O país tem dado mostras de uma grande determinação em rejeitar situações que possam envolver uma grande instabilidade, seja ela de natureza política, social ou económica”, considerou. Embora admita que os portugueses têm “vivido muitas dificuldades” porque o “país esteve à beira da bancarrota ainda há dois anos”.

 
 CDS acusa Soares de incitar à violência

O líder da bancada do CDS, Nuno Magalhães, classificou como graves as declarações de Mário Soares sobre a violência, sobretudo por serem proferidas por um antigo Presidente da República.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, Nuno Magalhães referiu a repetição do tipo de afirmações que o antigo chefe de Estado tem vindo a fazer. "Se fosse uma vez por outra, até pelo passado do dr. Mário Soares, não teríamos qualquer tipo de comentário. Como são reiteradas, como não é a primeira vez, e implicitamente apelam à violência, nós consideramos da maior gravidade e nesse sentido não podemos deixar de tomar uma posição pública", afirmou.

Na Aula Magna, o fundador do PS aconselhou os membros do Governo a abandonarem o executivo, "enquanto ainda podem ir para as suas casas pelo seu próprio pé", caso contrário, "serão responsáveis pela onda de violência que aí virá e que os vai atingir". Mário Soares pediu a demissão do Governo e do Presidente da República.

Nuno Magalhães classificou estas afirmações como graves e lembrou que a violência não é solução. "O dr. Mário Soares bem sabe que, em democracia, a alternativa é o voto das pessoas, nunca é a violência", argumentou.


 
 
 
 
 
 

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