Cavaco: “Os que agora falam nunca mexeram uma palha para mudar situação da África do Sul”

Cavaco Silva reiterou que posição de Portugal sempre foi a favor da libertação de Mandela e de recusa pela luta armada. Revelou ainda encontros de “tensão” com ex-presidente Pieter Botha e considerou Nelson Mandela como um dos “maiores estadistas do século XX”

Foto
Presidente criticou os que "falam de cátedra" sem terem presenciado o que era o regime africano há 30 anos e lamentou as "manobras políticas" recentes. Nuno Ferreira Santos

O Presidente da República, Cavaco da Silva, reiterou este sábado que Portugal sempre foi contra a luta armada e a favor da libertação de Nelson Mandela e de outros presos políticos. Em declarações à margem de uma vista em Viseu, o chefe de Estado sustentou ainda que a posição de Portugal foi “clara do princípio ao fim”.

“Nós exigimos a libertação dos presos políticos. Nós queremos o fim do apartheid, mas não queremos a luta armada” - era o que Portugal então defendia, lembrou Cavaco Silva, esclarecendo que esta foi a posição que defendeu nos Conselhos Europeus em que participou entre 1986 e 1995.

Cavaco Silva criticou a polémica criada na sexta-feira à volta da resolução das Nações Unidas em 1987 para a libertação de Mandela e na qual Portugal, então por si governado, votou contra. Disse tratarem-se de “manobras políticas internas” e lamentou que “os que agora falam nunca mexeram uma palha para tentar mudar a situação na África do Sul”. E criticou "quem fala de cátedra" sem ter presenciado os acontecimentos.

“O nosso embaixador seguiu aquilo que era a prática portuguesa que era de recusar a luta armada, tendo presente os 400 mil portugueses que estavam na África do Sul, tendo presente a guerra civil em Angola, tendo presente a guerra civil em Moçambique e o que seria o incendiar de guerras em toda a África Austral”, explicou. O embaixador "terá apenas recusado - e não mais do que isso -, a luta armada".

O Chefe de Estado português revelou ainda que em 1987 escreveu uma carta ao presidente sul-africano Pieter Botha a pedir a libertação de Nelson Mandela, uma das “démarches” que fez para a libertação do líder sul-africano. “O senhor Presidente reagiu muito mal a essa carta. Houve uma certa tensão entre os dois governos, Não foi nada simpática a sua resposta”, contou, lembrando uma reunião de “grande tensão” havida entre os dois em 1988 “precisamente porque Portugal insistia muito sobre a libertação de Mandela e de outros presos políticos”.

“Portugal teve sempre uma posição inequívoca: esteve sempre contra a luta armada como, aliás, Nelson Mandela veio depois claramente afirmar”, concluiu Cavaco Silva, manifestando a sua satisfação por verificar que essa era também a “preferência” - a da não violência - de Mandela e que lhe foi transmitida mais tarde nos encontros que com ele manteve. “Agradeceu-me o apoio dado por Portugal para a transição pacífica da África do Sul para uma democracia multiracial”, terminou, referindo-se a Madiba como sendo “inquestionavelmente um dos maiores estadistas do século XX” e um “homem de grande coragem política”.

Cavaco Silva vai representar Portugal nas cerimónias fúnebres de Nelson Mandela. Anunciou que aguarda autorização da Assembleia da República para visitar um país que “bem” conhece. “Visitei muitas vezes a África do Sul, presenciei os sinais claros do apartheid. Estive lá várias vezes nos anos 60 e 70, vi as marcas claras da prática do apartheid. Portanto, há quem fale de cátedra. Eu não falo de cátedra, mas sim de conhecimento”, sustentou.

Cavaco Silva esteve em Viseu para inaugurar uma exposição da artista Maria Keil, uma iniciativa do Museu da Presidência e que agora está em itinerância. À chegada, o Presidente da República passou de carro por cerca de meia centena de pessoas que entre palavras de ordem e assobios pedia o fim do Governo.

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar