Viver entroikado – Serviço Nacional de Saúde, que não se cometa um crime

Numa altura em que se discute o Estado social, ou o que ele deve ser, sou testemunha directa do que ele não pode deixar de ser na área da saúde.

Vamos a ele, ao Serviço Nacional de Saúde que ainda hoje existe. Uma reformada com uma pensão mínima foi operada há dois anos a uma anca, colocando uma prótese que resolveu problemas de fortes dores e dificuldades de locomoção. Correu tudo bem. Muito bem. Num hospital público, foi tratada com profissionalismo, acompanhada com atenção e até carinho, os familiares receberam sempre a informação que solicitaram e, na recuperação pós-operatória, tudo se repetiu da melhor maneira. Devido à sua baixa pensão, pagou os mínimos exigidos por lei.

A sua qualidade de vida melhorou significativamente, mas, logo na altura, o médico deixou claro que a mesma operação teria de ser feita à outra anca, que já revelava problemas. A operação ficou mais ou menos agendada para daí a um ano. Como não era uma intervenção urgente, foi sendo adiada, ao mesmo tempo que os problemas se foram agravando. Passados dois anos, a doente, novamente com muitas dores e novas dificuldades de locomoção, foi ao médico explicar a sua situação. O clínico foi sensível e, passado mais ou menos um mês, e após vários exames, foi novamente operada.

Voltou tudo a correr bem. Entrou na véspera da intervenção cirúrgica, foi informada de todos os procedimentos que se iriam seguir e, no dia seguinte à operação, estava mais uma vez feliz. Nos dias seguintes, foi relatando aos familiares como tinha sido tratada com atenção, elogiava médicos, enfermeiros e estagiários, presumo que médicos e enfermeiros, que dizia serem sempre atentos e prestáveis. Pedia que não lhe levassem nada de alimentos, porque o serviço prestado pelo hospital era bom e adequado para um doente em recuperação.

Mais uma vez, os familiares receberam todas as informações que solicitaram e até viram a sua vida facilitada, sendo-lhes permitido violarem as horas oficiais de visita, de forma a poderem conciliá-las com os seus horários de trabalho.

O edifício hospitalar já não é novo e isso choca um pouco, mas o equipamento é moderno e a doente tem tido mais uma vez toda a medicação e apoio clínico de que necessita. Não me pareceu que houvesse pessoal de serviço a mais e nunca notei qualquer tipo de desperdícios.

Não há aqui qualquer elogio ao hospital e ao dito Serviço Nacional de Saúde. É apenas o que se espera que uma reformada, ou qualquer outra pessoa, receba quando necessita.

Tudo o que atente contra isto é um crime que se comete contra os portugueses, que são quem paga este Serviço Nacional de Saúde.

Pela minha parte, estou disposto a pagar para que as coisas não continuem assim, mas para melhorarem ainda mais. Com novos hospitais, com profissionais de saúde ainda mais bem preparados, com mais investigação, com mais regalias sociais para quem precisa e sem cortes nos medicamentos ou serviços de saúde.

Que nunca, mas nunca, se coloquem os números antes das pessoas. Infelizmente, parece haver quem queira seguir por outros caminhos, inspirado em relatórios de quem não conhece a realidade. Claro que há poupanças que podem e devem ser feitas, reestruturações que podem melhorar os serviços, mas, repito, retirar o mínimo que seja aos cuidados de saúde dos portugueses é um crime.

Para que conste, o hospital aqui referido é o de São Lázaro, em Lisboa.
 

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