Presidente Nóvoa

Não ouvi o famoso discurso de António Sampaio da Nóvoa no 10 de Junho de 2012 que foi, para muita gente, o início do seu percurso nesta fase da vida política portuguesa. Mas estive, em 2013, na cerimónia que marcou a fusão das duas grandes universidades de Lisboa e foi aí que confirmei que estávamos perante alguém excepcional no nosso país.

Sampaio da Nóvoa poderia ter se limitado a cumprir com brio a função de reitor da Universidade de Lisboa. Mas fez isso, e fez muito mais. Conseguiu, em tempo de austeridade, desenhar e levar a cabo um projeto ambicioso e raro no nosso país, onde as rivalidades e o pensar pequeno tantas vezes impedem o juntar de forças. E fê-lo a pensar num Portugal aberto ao mundo, descomplexado, capaz de se afirmar. Onde outros temem comprometer-se com objetivos, a meta de Nóvoa foi muito clara: para encontrar o seu lugar na sociedade e na economia globais, Portugal precisa de ter universidades de referência mundial, e ele pôs mãos à obra e mobilizou vontades onde era possível fazê-lo. É possível ser realista e construir em Portugal uma (ou mais) das melhores universidades do mundo. Para isso, é preciso ir passo a passo: ser a melhor universidade da Peninsula Ibérica, competir para ser a melhor de língua portuguesa — os rankings estão aí — uma das melhores da Europa em alguns setores, e por aí adiante.

Nóvoa também poderia ter ficado por aí, e já seria muito. Mas acontece que nos últimos anos o nosso país viveu a sua mais profunda crise desde o 25 de Abril. E ele tomou posição nessa crise: dizendo duras verdades perante Cavaco Silva e Passos Coelho nesse 10 de Junho, ou pronunciando um extraordinário discurso num comício de convergência organizado por Mário Soares, ou encerrando brilhantemente o Congresso da Cidadania na Fundação Gulbenkian. Fê-lo de forma respeitosa mas firme; correspondeu ao que lhe era pedido dando tudo o que tinha. E foi por isso que muita gente o começou a ver como o melhor Presidente da República para o momento que atravessamos. Pessoalmente, estou certo disso.

Conheço, respeito e até gosto pessoalmente de vários dos candidatos que se apresentam nestas eleições presidenciais. Mas agora que a campanha oficial vai começar é importante pensar verdadeiramente que tipo de presidente desejamos ter. Alguém que faça apenas a gestão, umas vezes mais competente e outras vezes menos, da agenda política quotidiana? Ou alguém que, para cumprir a Constituição e assegurar a coesão nacional, dê tudo o que tem para ajudar o país a ser mais?

A grande questão para Portugal hoje é, sem dúvida, esta: como nos preparamos para um novo século num mundo globalizado e numa Europa na encruzilhada? Como garantimos que se cumprem no futuro os ideais que fundaram a nossa democracia? Para isso, um presidente oriundo da lógica mediana da nossa política não basta. É preciso um presidente que cumpra com tudo aquilo que à função presidencial pertence, mas também um presidente que reforce o nosso desígnio comum e ajude a juntar forças para criar um país mais justo, mais desenvolvido e mais autónomo.

Fica, como é meu hábito, a declaração de apoio expressa e completa. Os leitores já sabiam que eu apoio Sampaio da Nóvoa. Agora ficam a saber porquê.

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