Linhas de combate

Será a conduta dos próprios leitores que me irá levar a decidir a minha actuação.

Os comentários ou críticas que os Leitores do PÚBLICO me dirigem devem ser objecto de procedimentos internos, quer na consulta aos textos que os leitores referem, quer, sobretudo, na audição dos autores dos textos identificados.

Não levem, por isso, a mal, os leitores que já enviaram comentários, críticas, interrogações. Estou a dar seguimento aos aludidos procedimentos. Como estabelece o Estatuto do Provedor, "em todas as comunicações, internas ou públicas, que digam respeito a notícias editadas no PÚBLICO, o provedor é obrigado a ouvir o(s) jornalista(s) responsáveis por estas e a divulgar as opiniões recolhidas". E entende-se que assim seja, em nome da confiança na seriedade dos procedimentos que leitores, jornalistas e provedor querem imprimir nesta interacção.

Portanto, não vou, hoje, ater-me desde já a reparos ou reclamações apresentados por leitores. Não obstante ter iniciado estas funções, apenas há uma semana, a verdade é que já tenho, no meu correio electrónico, algumas críticas ou pedidos de esclarecimento da parte de diferentes leitores. Aliás, aproveito para dizer que, em princípio, não é minha intenção trazer para as edições do PÚBLICO (em papel ou digital), caso a caso, as questões levantadas pelos leitores. A cada leitor espero responder por via do mesmo correio. Julgo, porém, mais interessante e mais positivo, poder extrair do conjunto de queixas ou críticas apresentadas pelos leitores um tema para reflexão que globalize as questões concretas levantadas por esses assuntos. Não me sinto confortável fazer deste espaço um muro de lamentações ou um pelourinho acusatório. Contudo, em parte, será a conduta dos próprios leitores que me irá levar a decidir o comportamento da minha actuação.

Assim, por hoje, vou ficar por considerações de âmbito geral nalgumas questões, por certo, sempre pertinentes a ossos deste ofício. Durante estes primeiros dias após a minha indigitação para provedor, algumas pessoas falavam comigo, alertando-me para dois ou três pontos que entendiam o provedor dever dar grande atenção. Enumeremos, então, algumas:

1) Dê — diziam-me — muita atenção aos títulos das notícias cujo conteúdos, no texto, não comportam essa enunciação. Em relação a juízos, declarações, factos. Com efeito, eu lembro-me que, quando era directo de um jornal, por vezes, chamava o jornalista que escrevera o texto, e lhe dizia: "Não te importas que dê a esta tua "peça" um título mais apelativo". O título é, de alguma maneira, o cartão de visita do artigo. É a chamada de atenção para atractividade ao texto, ao jornal. Não é por acaso que há "especialistas" a fazer títulos. Mas compreendo, o reparo destes leitores que me falavam. Efectivamente, um título não pode distorcer o conteúdo da notícia, ou muito menos, dizer o que lá não está.

2) Um outro assunto que me reportavam: o cuidado a ter com as fontes da notícia. Esta, por certo, é uma das "pechas" mais discutíveis do jornalismo actual. Por um lado, a informação é cada vez mais frenética, mais sobre a hora. E no frenesim de informar o mais depressa, não guardar a notícia para que esta chegue, o mais rapidamente possível, ao leitor, cai-se facilmente no equívoco de não confirmar a fonte, a veracidade da revelação. Por outro lado, é comum, as fontes refugiarem-se no anonimato, por detrás das paredes ou dos reposteiros. Na minha actividade de fornecer informação, muitas vezes ouvi: "não use o meu nome e, muito menos, me faça aparecer no ecrã". Somos uma sociedade que muito reclama pela transparência, mas que pratica muito mais a opacidade.

3) "Tenha bem presente" — recomendavam-me estes meus primeiros interlocutores — "a importância, o relevo, a dar ao contraditório". É verdade. Porém, este procedimento, muitas vezes, fica omisso, ou é inexistente, pelos mesmos factores que aponto em relação à questão das fontes. Por responsabilidade dos produtores da notícia, da opinião, na revelação pública, mas também pelos próprios actores que preferem não entrar em cena.

4) "Olhe, provedor, tenha muita atenção aos erros que maltratam a nossa bela língua". Ui! Deste "pecadilho", em que é tão fácil cair, tenho eu próprio receio. Vou estar atento. A nossa língua é, de facto, muito bela. Mas passa-nos cada rasteira. Sem dúvida, têm razão os leitores. Escrever para o público exige cultura, na qual se inclui, obviamente, cultura linguística.

Aqui, com certeza, vou ter de tratar destas e doutras questões. Estas serão, aliás, importantes linhas de combate.

Provedor dos Leirores do PÚBLICO
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar