cartas à directora 28/08

A competência dos futebóis nacionais

Segui a conferência de imprensa do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, uma das poucas entidades que têm o privilégio de ter todos os canais noticiosos em cima, ao mesmo tempo. O tema era o Mundial visto por uma peneira mediática. Ora, uma das palavras que mais saíram do cocuruto do senhor presidente foi competência. "Não fomos competentes", afirmava, repetida e irrevogavelmente, Fernando Gomes. Por conseguinte, há que meter mãos à obra para que novos mundos surjam. Começamos então por mudar onde os outros foram melhores do que nós, ou seja, dentro do futebol jogado? Nada disso. Cria-se uma coordenação qualquer, mais uma unidade de saúde e performance (seja lá o que isso for) e rolará de novo a bola, para gáudio das bandeirinhas penduradas nas varandas nacionais. Segui, como disse, a conferência de imprensa. E vi também uma classe jornalística indesejavelmente amorfa e absolutamente inócua. Sinais dos tempos que correm.
J. Ricardo, Torre de Moncorvo

Férias no estrangeiro, mas cá dentro???

Eu explico. Antigamente, os serviços de turismo nacional promoviam, salvo erro, o "passe férias cá dentro". Ora eu, com alguns eurozitos que escaparam do esbulho do Governo aos reformados, passei umas férias no "estrangeiro", mas no Algarve! É que existe um empreendimento turístico no Algarve (obviamente não poderei dizer qual) que tem normalmente uma ocupação de 5% de nacionais e o restante de estrangeiros alemães. Como a ocupação ronda os 100%, todo o ano, só alguns empregados não quadros são portugueses. Geralmente (onde é que eu já vi isto?) na restauração, limpezas e outros serviços que os alemães não querem realizar pelos mesmos vencimentos. No resto, os donos, os directores e todos os quadros, são alemães. Só se fala e escreve em Alemão nas instalações, misturado com um pouco de Inglês, aqui e acolá. Nada tenho a apontar à excelente qualidade do serviço ou das instalações, sociais, desportivas e lúdicas, em grande diversidade e categoria. Como os trabalhos acabam por ser executados por portugueses, é caso para confirmar que os nossos compatriotas, quando dirigidos por estrangeiros, são dos melhores do mundo. Eu sou do tempo em que o regime anterior deixou criar uma certa desconfiança (para dizer o menos) em relação aos nossos vizinhos espanhóis. Agora, nesta "democracia", a desconfiança ou malquerença está centrada nos nossos credores europeus, designadamente alemães. Ora, o que eu vi nestas férias, é muito sintomático do que nos pode eventualmente esperar. Para amortizar a brutal dívida que ainda temos, vamos vender cada vez mais empresas, públicas e privadas. E Portugal vai funcionar muito "melhor" com patrões alemães e trabalhadores nacionais "bem" enquadrados e dirigidos. Já agora também, num esforço para uma melhor produtividade e eficácia (que o nosso Governo tanto exorta), podia despachar-se a equipa governativa para Bruxelas (de que gosta tanto), e substituí-la por uma equipa alemã...
Manuel Martins, Algarve

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