Cartas à directora

A árvore e a floresta

Em 1981, Desmond Morris publicou A Tribo do Futebol, uma obra muito interessante sobre o fenómeno social do futebol e respetiva agressividade. O livro é hoje considerado desatualizado no seu contexto original, Inglaterra. Entretanto, ocorreram as tragédias de Hillsborough e do Heysel, foram aplicados pesados castigos aos clubes ingleses, tomadas várias medidas e, aparentemente, a situação mudou significativamente.

Por estes lados, podem os estádios cumprir todos os regulamentos de segurança, mas continua a imperar um espírito tribal, e didática de boas maneiras é coisa que não existe. Não é normal o aparelho policial que se mobiliza ao longo do ano (uma boa parte à custa do contribuinte) e não são aceitáveis os atos de vandalismo sistemáticos. No caso da agressão do polícia ao adepto do Benfica, em Guimarães, a atenuante de ter sido provocado, de ter passado longas horas de elevado stress não é desculpa, mas também não é aceitável insultar e desrespeitar continuamente a polícia.

Entreposta entre duas tribos rivais, a polícia acaba reconhecida como uma tribo inimiga. Só que a polícia é naturalmente inimiga dos marginais. É com estes que os adeptos se querem identificar? Qual o objetivo e o significado de os ecrãs gigantes de Lisboa terem passado imagens dos confrontos com essa terceira tribo? Era uma batalha também a evocar?!

Esta situação tem de ser parada e independentemente do risco de um dia ocorrer uma tragédia maior. Responsabilizar e castigar, fechar os estádios, suspender o campeonato... o que for preciso. A solução não pode ser reforçar e reforçar a polícia. Até porque com a polícia de choque o problema fundamental não está na forma como intervém, o problema está na necessidade de intervir.

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

Os energúmeros

Na posse de um carro velho, um carro com 21 anos de idade, não me preocupava com possíveis contratempos relacionados com ladrões e badalhocos. Quase na sua vida completa, até agora, nunca essa classe de energúmenos tinha tido a menor preocupação com esse carro velho e cansado. Numa das últimas sexta-feiras, eu e o carro velho decidimos parar num sítio que parecia agradar a ambos. Sim, ficaria na rua como sempre, o carro velho, mas junto a uma fonte de luz, ao abrigo das fezes das pombas do município e, com algum conforto de companhia, junto a habitações de gente ordeira e pacata. Era mais uma noite a juntar às milhares já passadas ao relento. No dia seguinte, sábado; tranquilo, vou ter com o meu carro velho. Espantado, mas sem stress, olho e vejo a porta de entrada, lado do condutor, imaginem, quase dobrada ao meio. O velho carro, apesar disso, continuava fechado, com dignidade. O que teria levado essa nova classe de cidadãos a fazer aquilo?

Gens Ramos, Porto

PÚBLICO ERROU

Na edição de segunda-feira, no artigo Sonangol recebeu 1000 milhões para assegurar BCP e entrar no ex-BESA, escreve-se, no final do texto, que um dos accionistas é o BCI (Banco de Comércio e Indústria, controlado pelo Estado angolano), quando o accionista é, na realidade, o consórcio BCI, ligado ao grupo Castle na cervejaria Cuca.

A carta à directora Porque somos pobres, publicada no domingo, 24, saiu sem ser assinada. É da autoria de Artur Gonçalves de Sintra. As nossas desculpas ao autor.

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