Cartas à Directora

25 de Abril, sempre?

Provocando um pouco: não assino por baixo do “25 de Abril sempre!”. Os objectivos de Abril: derrubar um regime podre e que apodrecia o país, instaurar a democracia, acabar com a guerra colonial, estão cumpridos. É uma data histórica, muito bonita, mas fechada. É com tristeza que vejo uma espécie de tentativa de apropriação da data; um pouco como alguns se tentaram apropriar do pós-revolução, até à surpresa (ou não) das eleições de 1975. Entristece-me ver a imagem do 25 de Abril ser “sectarizada”!
Se hoje não está tudo bem, a solução também não passa por outro 25 de Abril, nem por rechamar o original. Os problemas que temos não enfermam fundamentalmente da natureza do regime; são devidos às deficiências das pessoas que têm o poder. Não precisamos de mudar o regime com chaimites na rua. Necessitamos de colocar as pessoas certas no lugar certo, de responsabilizar, de julgar e condenar os desvios, de sermos exigentes com todos e connosco. É uma batalha pela mudança de mentalidades. Um esforço que deve ser colectivo, o mais abrangente possível e nunca “sectarizado”, tal como o 25 de Abril original não o foi!

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

Censura na Assembleia da República

Ontem, celebrou-se o "25 de Abril", o Dia da Liberdade, mas o que é certo é que, de dia para dia, estes valores vão-se perdendo. PSD, PS e CDS, segundo consta, chegaram a acordo sobre as novas regras para a cobertura jornalística, durante as campanhas eleitorais. De assinalar que o PCP, e bem, já se colocou à margem desta insólita medida, e o BE, também bem, deverá seguir o mesmo caminho. No meu ponto de vista, é um grave atentado à liberdade de imprensa, e ainda mais grave é que quem não cumprir uma das medidas leva uma multa que poderá rondar os 50.000 euros. Durante anos, tivemos a Censura e a PIDE a controlarem a imprensa, e não só. Pergunto-me: vamos voltar ao passado? Com esta "censura" da AR, tudo leva a crer que sim!

Tomaz Albuquerque, Lisboa

Um anjo

Hoje cruzei-me com um anjo, numa paragem de autocarro. Andam por todo o lado, principalmente nos locais menos prováveis. As pessoas dizem que não os vêem, não os encontram, porque andam tão assolapadas nos seus aturdimentos da vida, que só olham e não vêem.

Este anjo apresentava-se banal. Não irradiava luminescências, nem outros fogachos de artifício. Era um ser simples disfarçado de cão.

A dona, um ser igualmente lindíssimo, afagava-o na paragem do autocarro. Afagava-o mas não o via, não podia.

O cão-anjo, cumprindo a rigor os preceitos das entidades angelicais, estava simplesmente presente, derretendo-se com as carícias da dona. E olhava-a dizendo-lhe amor.

“Aqui estou para te guiar e tu comigo para me fazeres festas, que é o que mais gosto”.

Vi hoje um anjo, e fiquei especado e parvo a vê-los os dois amando-se perdidamente na via pública. Não sei o que tenho, mas passo a vida a tropeçar nos anjos... Deve ser por amar incondicionalmente este mundo em que nos foi dado o privilégio de viver!

Ganhei este fim de dia de Abril ensolarado. Que raio de mês este, que mexe tanto comigo!

Luís Robalo, Lisboa

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