Cartas à Directora

A morte levou o mestre

Na sua concreta ou experimental poesia, em que os seus poemas são discursos metafóricos tecidos de espirais barrocas, Herberto Helder (Funchal, 1930; Cascais, 2015), aos 84 anos, partiu sem qualquer físico retorno ao encontro d’A Morte sem Mestre, que tão bem urdiu no crepúsculo da sua "escondida" vida, antes de, finalmente, nos deixar para todo o sempre, levado pela impiedosa morte e "fechado inteiro num poema".

José Amaral, Vila Nova de Gaia

Herberto Helder

Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira, em Aos Amigos, escreveu: "Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado / Os amigos que enlouquecem, e estão sentados, fechando os olhos / com os livros atrás a arder para toda a eternidade / Não os chamo, e eles voltam-se profundamente / dentro do fogo…" O autor de Os Passos em Volta e Vocação Animal nasceu no Funchal, corria o ano de 1930. Frequentou o Café Gelo, em Lisboa, convivendo com Mário Cesariny, Luiz Pacheco e António José Forte. O Amor em Visita (1958) foi o seu primeiro livro. Herberto Helder recusou o Prémio Pessoa que lhe foi atribuído em 1994. O autor de Última Ciência escrevia por amor à poesia e não por dinheiro. A estrela maior da poesia experimental fazia das palavras notas musicais de sangue, luz, espelhos, jardins, pálpebras e muitas mãos, exaltando o mundo na sua imensa melodia. A sua posição perante a vida é um exemplo quando faltam homens de luminosas palavras. Recusando mordomias dos poderes políticos e a honraria barata de prémios literários mais preocupados na promoção dos promotores, Herberto Helder deixa-nos numa imensa Electronicolírica! Em Edoi Lelia Doura antologiou António Gancho, Ernesto Sampaio, Manuel de Castro e António José Forte. Recordo o eterno amigo Manuel Hermínio Monteiro, seu editor na Assírio & Alvim! Poetas que beijam as estrelas sabem que A Faca Não Corta o Fogo. Herberto Helder, sempre com Os Passos em Volta!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Casas para todos

Na quarta-feira 25 de Março, o PÚBLICO deu-nos a conhecer um belíssimo artigo de Ana Vicente, Habite esta ideia, onde se chama a atenção para o número de pessoas sem casa e as casas abandonadas que existem, muitas delas pertencentes à Igreja Católica. E eu acrescento também que as Misericórdias e outras entidades dispõem de património habitacional em estado de degradação e mesmo ruína.

Refere as “centenas de edifícios, antigos mosteiros e seminários… Porque não reconverter este património ao serviço dos mais desfavorecidos?” Este alerta de Ana Vicente tem de ter imediato seguimento. É urgente que ninguém fique na rua e que a Igreja Católica dê já um bom exemplo de actuação cívica!

Maria Clotilde Moreira, Algés

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