Cartas à Directora

Os riscos gregos

Andam por aí uns opinion makers bastante atribulados com a Grécia. Apraz-me que tenham opiniões, mas, quando se põem a “fazê-las”, agradeço-lhes do coração que se acalmem. Pareceres exaltados pecam pela fragilidade e, quando os autores menos se precatam, estão a defender o indefensável, confundindo alhos com bugalhos e, no afã de papar o pão, mais não fazem do que enganar os meninos.

Já vi alertados muitos perigos decorrentes do resultado das recentes eleições gregas. Sublinho alguns deles referidos neste jornal pelo jovem e pré-emérito dr. Paulo Rangel.

Sabia que há populismos, mas não que eram só de esquerda e de direita. O centrão, pelos vistos, está vacinado contra desvios da mesma natureza. Para a sra. Merkel, o sr. Schäuble e o sr. Passos Coelho, comedidos centristas, radicais são os outros. Não disfarçam a teimosia pura em que cada um dos dois só vislumbra o argueiro do outro.

O radical Syriza é acusado, simultaneamente, de se alinhar com extremistas de direita, anti-semitas nas horas vagas, e de ter uma agenda (secreta?) de colectivização e socialização esquerdistas da economia. Em que ficamos?

Ora, se esses “radicais”, por mais acordos e adiamentos que possam ir conseguindo, vierem a ser radicalmente expulsos da Europa por forças “moderadas”, poderão ter de pedir ajuda aos russos e, quem sabe, aos chineses. Dos russos vão "levar sopa”, que tomaram eles poder mandar cantar um cego. Já quanto aos chineses, vai ser um risco mundial... Se, à boleia dos empréstimos, comprarem o porto do Pireu, é até possível que operem fusões com outras companhias de capitais chineses. Que tal a EDP? Ou a REN? Ou a Fidelidade? Já para não invocar o perigo de os gregos, em arroubos de paixão, poderem abrir-lhes as portas dos vistos gold

Na esteira do distinto articulista, fica aqui expresso o meu “terror” por tantos riscos gregos. Felizmente que o Governo português “só” quer, moderadamente, acabar com o Estado social.

José A. Rodrigues, V.N.Gaia

Subserviências

De tanto ouvir a acusação de subserviência à Alemanha, lá fui mais uma vez ao baú da nossa história dos últimos 40 anos e imaginem o que vi – em pleno Abril 74, o PCP, afogado em subserviência à defunta URSS e à Alemanha "democrática", prestar-se ao papel de seu verdadeiro embaixador e muito resumidamente, e por falta de espaço, vou lembrar apenas dois casos: o envio dos ficheiros da PIDE para lá da Cortina de Ferro e o frete na entrega do ultramar aos movimentos afectos à URSS/RDA. Daí para cá, subservientemente, sempre ao lado da URSS nos ataques aos interesses do Ocidente. Após o desmantelamento da URSS e da queda do Muro, subservientemente nunca se ouviu o PCP a atacar países como o Irão, a Síria, Cuba, Coreia do Norte ou movimentos hostis ao Ocidente como a Al-Qaeda ou jhadistas, pois a Rússia é a própria a vetar qualquer voto contra essa gente. E como se há de chamar ao silêncio do PCP do papel da Rússia na Ucrânia? Um conselho ao PCP: olhe-se no espelho e pergunte se haverá algo tão subserviente, evitando dessa forma demonstrações de falta de pudor. Termino imitando Jerónimo de Sousa, que tanto gosta de finalizar as suas intervenções citando provérbios sempre oportunos: "Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho."

Jorge Morais, Porto

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