Cartas à directora

Os bons e os maus rebeldes

Há cerca de quatro anos um movimento de contestação e de revolta armada na Líbia foi abertamente apoiado, mesmo militarmente, pela chamada "comunidade internacional". Para já, passemos ao lado das consequências da queda do regime de Kadhafi e dos tempos sombrios que o país desestruturado vive e viverá.

Hoje, um movimento de revolta no Iémen, sequência duma grande cisão comunitária do país, que até já esteve formalmente dividido em dois, está a ser bombardeado pelos vizinhos árabes, uma acção tolerada pela mesma comunidade. Aparentemente há bons rebeldes que devem ser ajudados e maus rebeldes que devem ser combatidos.

Numa análise simplificada, o regime de Kadhafi era hostil ao sunismo waabita das monarquias do Golfo; os rebeldes houthis do Iémen são xiitas e aparentemente apoiados pelo Irão, o grande inimigo das tais monarquias árabes. Portanto, o critério para a distinção entre o bom e o mau rebelde será muito claro, quando visto assim a partir de Riad ou Doha. Que o Conselho de Segurança da ONU tenha autorizado o uso da força em favor dos rebeldes líbios e agora vote um embargo de armas aos houthis é que me faz alguma confusão. Convém recordar que não se trata de um simples jogo de xadrez. Sem falar nas consequências a longo prazo, há uma catástrofe humanitária em curso que, segundo a ONU, representa já mais de um milhar de mortos e 300 mil desalojados. Quando amanhã naufragar no Mediterrâneo um barco de iemenitas, embarcados caoticamente numa Líbia desgovernada e a Europa achar que, sem saber bem como, também tem culpa no assunto, fica aqui uma pista…

Carlos J. F. Sampaio, Esposende
 
Fardos de palha, ovelhas e euros

O monumental julgamento de uma alegada rede de corrupção na obtenção de cartas de condução vai movimentar 111 arguidos, 600 testemunhas e 96 advogados. O processo Carta Branca vai ficar caro ao erário público. No banco dos réus sentam-se examinadores, angariadores, instrutores, escolas de condução e candidatos a condutores. Os casos de corrupção na obtenção de cartas de condução nos centros de exame em Mirandela e Bragança elevam a advocacia como profissão de futuro. Portugal está em julgamento, tantos e variados casos movimentam os tribunais de pequena instância, Relação, Supremo e Constitucional.. Enquanto os enfermeiros, médicos e engenheiros partem, os advogados ganham protagonismo. Não é por acaso que as sociedades de advogados estão bem colocadas nos centros políticos decisórios. Os legisladores abraçam leis, decretos, conjugando artigos como um agricultor lança as sementes à terra! Os chamados “advogados do diabo” vestem-se de santos. Aos poucos ficamos a saber com quantos martelos e compassos se fazem os maçons! Eles andam aí! A estreia do filme Capitão Falcão leva-nos à Lisboa conspirando contra o Estado Novo. Após quarenta anos de revolução abrilista todos os dias são pardos! Em declarações ao CM, a dª Antónia Rodrigues, de 73 anos, disse que pagou pela carta de condução para o seu filho, 6300 euros, ovelhas e fardos de palha! Sinais de regresso aos campos?

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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