Acordo EUA/Cuba

"Paz aos homens de boa vontade", epígrafe tão referida nesta época do ano, hoje ainda tem mais sentido pelo que aconteceu, com o restabelecimento de amplas relações entre Cuba e os Estados Unidos, facto que, por si só, é motivo de regozijo para todos aqueles que defendem a democracia no mundo.
E os homens têm nome que é fundamental registar: Raul de Castro, Barack Obama e também o Papa Francisco, os quais, ao longo de meses, em conversações confidenciais, foram vencendo etapas, naturalmente complexas e difíceis, mas que as suas vontades e querer levaram ao facto histórico que hoje teve lugar.
A História absolverá todos aqueles que ao longo de mais de cinquenta anos obstaram a que naquela parte do mundo tivessem acontecido situações que a partir de hoje já são passado.
Assim, há que encarar o porvir com esperança, cientes de que ainda há muito a fazer para que os passos que hoje foram dados se transformem em certezas, e com total respeito pela independência e soberania de cada país, e em paz.

José P. Costa, Lisboa

As balanças

Para fazer um balanço de 2014 são precisas várias balanças! O XIX governo constitucional canta vitória sobre o défice afirmando a pés e mãos que o cumprimento do programa de assistência financeira não exige mais medidas de austeridade. Tão habituados estão os nossos governantes ao corta-corta que a linguagem resvala para acrobáticas conclusões. Até entre os desempregados há desigualdade! Num prato da balança estão os que recebem apoios sociais, no outro, os esquecidos da sociedade. O PS está em grande! António Costa veio com o equinócio de Setembro anunciar que “o sol brilhará para todos nós”. A letra do Avante não é tomada à letra. Apenas uma distracção pode levar algum incauto socialista a sonhar com uma aliança com o PCP. Os leninistas sabem como se tempera o aço. O atletismo corta a meta. Os portugueses sabem que só correndo alcançam a esperança. Depois é esperar para ver, se não aparece mais uma família de colarinhos brancos a levar-nos couro e cabelo. Enquanto um quinto dos portugueses padece de complicações mentais, o director do Programa Nacional para a Saúde Mental revela que o aumento de consultas de foro psiquiátrico situa-se a Norte. A célebre palavra de ordem do Prec/ 75, "força, força, norte e a revolução será mais forte” caiu no esquecimento. A violência doméstica é o espelho  da paz podre que campeia em milhares de lares portugueses. Milos Forman, o realizador de Voando Sobre um Ninho de Cucos tem em Portugal, campo inesgotável. Os juízes e os jornalistas merecem uma palavra de apreço. Os homens da bata negra têm feito a vida difícil aos colarinhos brancos, enquanto os jornalistas de investigação fazem das palavras, luminosas estrelas. A poesia dá-nos alento. Herberto Helder relampeja com A Morte Sem Mestre. Eugénio de Andrade, em Balança, escreveu "no prato da balança um verso basta/ para pesar no outro a minha vida”.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim