Cartas à Directora

Nadine Gordimer (1923-2014)

Soube da sua morte, este domingo. Parece que lutava contra um cancro, mas morreu durante o sono e em sua casa. Tinha a bela idade de 90 anos!

Fui buscar Ninguém Me Seguirá (None to Accompany me, 1994) à prateleira. O único livro que li da escritora, da "africana branca" como gostava de se definir. Abri e cheirei o livro fechado há quase vinte anos.

Frases sublinhadas e transcritas nas páginas brancas do volume: "Uma só vida temos na qual queremos apenas ser amados para sempre" (citou Gordimer, de Antjie Krog); "Há sempre alguém de quem ninguém se lembra" (esta é a segunda frase do livro); "A sua vida era toda contacto: de dia, o corpinho roliço e macio da filha, tépido e húmido de encontro à anca, as mãos do filho já espigadote, cheias de arranhões e ásperas por causa das lutas e brincadeiras com os outros; as carícias de quando fazia amor."; "as pessoas matam-se se as fizeram envergonhar-se das suas vidas." Acho que o vou reler.

Obrigada, Nadine. Você não será esquecida... Um pouco de si permanece nas nossas casas e nas nossas vidas, portanto.

Céu Mota, Sta Maria da Feira

 

Nadime Gordimer

A luz que iluminou a longa noite da luta contra o apartheid na África do Sul deixou-nos. Nadine Gordimer, Prémio Nobel da Literatura em 1991, faleceu aos 91 anos de idade. Incansável lutadora contra a segregação racial, a romancista sul-africana de origem inglesa não abandonou a África do Sul. Levantando bem alto a bandeira da igualdade retractou a sociedade sul- africana e os movimentos de libertação. Nadine esteve sempre ao lado do povo, vítima das maiores e incompreensíveis injustiças! O continente africano esteve sempre presente nas suas análises sociais e políticas. A autora de Os Dias Mentirosos, Um Hóspede de Honra, Um Capricho da Natureza e A Gente de July, em Um Mundo de Estranhos escreveu: "começou a estar na moda  ter pelo menos um amigo africano, uma espécie de animal de estimação, cujo nome se podia citar como que por acaso”.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

Tem que ser desta

Aparentemente o famoso navio Atlântida será finalmente vendido. Foram oferecidos 13 milhões de euros, um valor largamente inferior aos 46,5 milhões de euros, pelos quais ele deveria ter sido vendido inicialmente e também significativamente inferior a uns 35 milhões que consta terão sido oferecidos em tempos, após a resilição com os Açores. A esta diferença ainda deverão ser somados todos os custos operacionais e financeiros dos anos em que o navio esteve comercialmente encalhado.

Custa-me a crer que um défice de 13% na velocidade máxima fosse razão única para termos chegado a isto. Não entendo como fornecedor e cliente ambos entidades públicas, com obrigação de zelarem um pouco pelo interesse público, não conseguiram acordar algum tipo de compromisso, menos radical. É muito estranho e cheira que há aqui mais nós atados do que os da velocidade.

Não vale a pena pensar em recuperar o leite derramado. Está perdido e está. Pode-se é fazer a conta completa, calcular o custo total desta absurdidade e, já agora, por favor, apurar responsabilidades. Não posso acreditar que o país não tenha organismos e enquadramento jurídico para lidar com esta delapidação de dinheiro público. Tem que existir e quem é responsável por essa iniciativa deve assumi-la. Se não o fizer, vai dar a ideia de ter alguma conivência. Por isso, por favor, esclarecem isto e com celeridade. Como cidadão, a minha contribuição involuntária para este prejuízo dá-me o direito de exigir apuramento de responsabilidades ao Estado Português.

Carlos J F Sampaio, Esposende

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