Escolha de Mota Amaral para a Europa baralha lugares na lista do PSD

Ex-presidente da Assembleia da República e do governo regional dos Açores terá rejeitado o 8.º lugar. Lista do PSD de Rio está "entalada" entre os Açores e a Madeira

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Mota Amaral, ex-presidente do Governo Regional dos Açores Nelson Garrido

Há uma tradição não escrita mas quase sempre respeitada pelas sucessivas direcções nacionais do PSD de fazer alternar a posição as duas regiões autónomas na lista para o Parlamento Europeu. Sempre num lugar elegível. Em 2014, quando o PSD concorreu coligado com o CDS, foi Sofia Ribeiro, indicada pelo PSD-Açores, a ir à frente (número 3 da lista) da madeirense Cláudia Monteiro de Aguiar (sexto lugar). Agora, sublinha fonte do PSD-Madeira ao PÚBLICO, é a vez de o candidato indicado pelo Funchal ter primazia.

Noutras circunstâncias, com outros nomes envolvidos, a pretensão de Miguel Albuquerque, líder dos social-democratas madeirenses, seria pacífica. Mas ao ir a jogo com João Bosco Mota Amaral, o PSD açoriano baralha as contas da sempre difícil escolha de uma lista de candidatos a deputados. Tanto que, de acordo com uma noticia avançada esta terça-feira pela agência Lusa, que cita fonte do partido, Rui Rio terá sondado Ponta Delgada para o oitavo lugar na lista, posição que no actual momento político dificilmente pode ser vista como elegível.

Ainda de acordo com a mesma fonte, Mota Amaral, que se tem mantido em silêncio desde que o seu nome foi anunciado pelo PSD-Açores, terá rejeitado esse lugar. Alexandre Gaudêncio, líder dos social-democratas açorianos, insiste que nada está definido. “A lista não está fechada. O presidente do partido disse isso hoje [terça-feira] mesmo”, declara ao PÚBLICO, sublinhando que a expectativa do PSD-Açores é ter o candidato num lugar elegível, como sempre aconteceu desde que há eleições para o Parlamento Europeu em Portugal. “Se isso não acontecer, aí sim, teremos a nossa reacção”, avisa.

Em Lisboa, o discurso oficial do partido destaca o percurso político do antigo governante açoriano. “O dr. Mota Amaral não é uma pessoa qualquer, é lógico que tem de ser tratado com a dignidade que merece. Se não for possível ser tratado com essa dignidade, então não pode estar, isso é evidente, é uma questão de respeito pela personalidade em causa”, admitiu Rui Rio, no início do mês aos jornalistas, sem se comprometer com nomes.

Falando então à saída da gravação do podcast Perguntar Não Ofende, do jornalista e comentador Daniel Oliveira, apontou a necessidade de “fazer uma série de equilíbrios” que “não são fáceis”, defendendo que, para o antigo presidente da Assembleia da República, e um dos fundadores do PSD, um lugar elegível não é suficiente. “Muito mais do que isso”, vincou o líder social-democrata.

Alexandre Gaudêncio começou por pedir um lugar elegível para Mota Amaral, mas foi ganhando ambição. “O dr. Paulo Rangel já foi anunciado para cabeça de lista. Não ficaria nada mal, se o dr. João Bosco [Mota Amaral], viesse logo a seguir, em segundo lugar, porque é uma pessoa que merece esse respeito e essa consideração”, argumentou Gaudêncio no início da semana passada, à entrada para a comissão política regional do partido, que ratificou a escolha do histórico político açoriano como candidato às europeias.

Além do currículo, Mota Amaral foi uma das vozes audíveis a defender Rui Rio no conselho nacional do partido, onde foi votada a moção de confiança na direcção nacional, em resposta ao desafio de Luís Montenegro. Rio tem, assim, mais uma razão para colocar o antigo presidente do governo açoriano num lugar de destaque, mas terá, ao mesmo tempo, de gerir a sensibilidade do PSD-Madeira, num ano eleitoral intenso naquela região autónoma: europeias, regionais e legislativas.

O líder do PSD e do Governo regional, Miguel Albuquerque, quando formalizou o nome de Cláudia Monteiro de Aguiar, insistiu num lugar elegível para a Madeira, “nunca abaixo do sexto”, lembrando que o acordo de alternância que existe no PSD determina que este ano seja a candidata madeirense a ir à frente.

Desde que existem eleições para o Parlamento Europeu, Açores e Madeira têm tido sempre um lugar elegível na lista do PSD, mesmo quando este concorreu em coligação. A regra tem sido sempre a alternância entre a Madeira e os Açores e, quando não foi respeitada, a direcção nacional compensou nas eleições seguintes. Os Açores foram em primeiro em 1987, 1994, 1999 e em 2014. A Madeira em 1989, 2004 e 2009.

“Essa regra não está escrita, foi uma coisa falada no tempo de Passos Coelho”, contrapõe ao PÚBLICO fonte do PSD açoriano, insistindo que o peso político e institucional de Mota Amaral exigem outra atenção na São Caetano à Lapa.

Na Madeira, nos corredores do partido, ainda mais importante do que respeitar a tal regra é garantir que Cláudia Monteiro de Aguiar é reeleita. Longe dos microfones, e tendo em conta os estudos de opinião nada favoráveis ao PSD que têm sido divulgados, os dirigentes locais dizem que o sexto lugar pode até ser arriscado. Por isso, admitem que gostariam de ver a candidata pelo menos no 5.º lugar da lista.

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