Lisboa parou para saudar os campeões europeus

Comitiva foi recebida no aeroporto em apoteose, antes de circular pela cidade para partilhar a festa com os adeptos.

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Uma cidade parada para receber a selecção nacional PÚBLICO

Portugal é o novo campeão da Europa de Futebol e a selecção nacional foi recebida, em Lisboa, num clima de verdadeira euforia. A cerca de duas horas da chegada do avião da TAP que transportou a comitiva, já pelo menos duas centenas de pessoas e dezenas de jornalistas estavam concentrados junto a uma das saídas secundárias do Aeroporto Humberto Delgado. Os adeptos juntaram-se na rua, nas varandas do parque de estacionamento, nos telhados e em cima das placas de trânsito e das grades. Numa concentração alegre, mas ordeira e tranquila, notava-se já a efervescência da aproximação à hora da recepção aos craques. Não se sentia a festa de um clube, odiada pelos rivais. Sentia-se um país.

Cantava-se “A Portuguesa”, agitavam-se bandeiras, davam-se uns toques numa bola, falhava-se a tentativa de fazer a “onda mexicana” e ouviam-se alguns cânticos já clássicos dos estádios portugueses. Mas também houve novidades. “Pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal. Somos campeões da Europa, viva o nosso Portugal” – o novo cântico, bem adaptado à história recente da selecção portuguesa, promete vir para ficar.

Os minutos passavam e tudo era motivo para festejar. Até mesmo a chegada da polícia de intervenção justificava o aplauso caloroso e a celebração, como se de um golo se tratasse. Um golo de Éder. Ou Éderzito. Ou Mágico Éder. Nesta segunda-feira, no aeroporto, Éder – o herói nacional, na final de Paris – foi tudo isto. Não existisse um Cristiano Ronaldo, e o avançado do Lille teria sido o jogador mais em foco nos cânticos dos adeptos portugueses. Ainda assim, para alguém que foi tão criticado e que surpreendeu a Europa com o golo que decidiu a final, dividir o protagonismo com Ronaldo não é nada mau.

Mas nem só de Éder e Ronaldo se falou e cantou nesta recepção à selecção nacional. “São Patrício”, Nani e Quaresma não faltaram à chamada. Até Michel Platini esteve presente. O uso do galicismo “Portugal allez”, nos cânticos, fazia lembrar os rivais franceses e o francês Platini, que não escapou às provocações mais mordazes. E nem os islandeses ficaram de fora da festa portuguesa. O ritual das palmas sincronizadas, celebrizado pelos jogadores da Islândia, foi reproduzido, vezes sem conta, no Aeroporto Humberto Delgado, ainda que pouco coordenado.

Desde cedo, a polícia estipulou que deveria ser deixado um corredor livre entre os adeptos, por onde passariam os autocarros da selecção nacional. Ao contrário do que é habitual nestes momentos, os adeptos respeitaram os pedidos da polícia e não se registaram quaisquer incidentes ou qualquer intervenção das forças policiais. O ciclo repetia-se: “A portuguesa”, “Portugal allez”, “Cristiano Ronaldo”, “Éder” e palmas islandesas.

A chegada da polícia de trânsito e dos spotters indiciava que a chegada dos craques estava próxima. O relógio marcava 13h06 quando dois autocarros panorâmicos chegaram junto de uma multidão ansiosa por acenar aos novos campeões da Europa. Os Queen foram os homens da música, claro, enquanto Eliseu foi o homem da taça. Ao som de We Are The Champions, foi ele o primeiro jogador a mostrar o troféu do Euro 2016 ao público português. O capitão Ronaldo seguia na traseira do autocarro, a filmar o ambiente impressionante com que os portugueses receberam a comitiva nacional. Um país circundava os autocarros.

Em marcha-lenta, provocada, em parte, pela multidão presente nas ruas, os autocarros seguiram para o Palácio de Belém, por uma segunda circular com público na estrada e uma CRIL com carros parados nas bermas. A comitiva nacional chegou a Belém e foi recebida pelo Presidente da República. Discursaram Marcelo Rebelo de Sousa e Fernando Gomes, agradecendo aos "heróis nacionais". A seguir, o momento de união com o público. Os jogadores debruçaram-se sobre a varanda da residência oficial e entoaram “A portuguesa”, visivelmente emocionados, de frente para os portugueses.

Seguiu-se o percurso com destino à Alameda D. Afonso Henriques. As ruas continuavam cheias e os jogadores acenavam ao passar pela Avenida 24 Julho, a Avenida Infante Santo, o Largo do Rato e a praça do Marquês de Pombal, onde milhares de portugueses celebraram o título europeu. Depois da Avenida da Liberdade, do Rossio e da Praça da Figueira, a comitiva campeã da Europa chegou à Alameda. Uma Alameda pequena para um país. Os heróis subiram ao palanque e a multidão exultou.

Fernando Santos dedicou a vitória aos portugueses: “ Esta é a nossa vitória. É a vitória dos portugueses e de Portugal”. O seleccionador nacional olhou para os jogadores e falou dos “seus” heróis. “Viva os heróis de Portugal, que aqui estão ao meu lado”, vincou o técnico agora campeão da Europa, antes de terminar: “É isto que fala mais alto, é o orgulho de ser português. Viva Portugal”.

A seguir, foi a vez de Ronaldo discursar. E discursou. “Siiiiii”, começou por gritar. O capitão quis que o protagonismo fosse de Éder e deu-lhe o microfone. “Obrigado a todos por este momento. Demos tudo em campo por vocês, sabemos que estiveram sempre connosco”, reconheceu o autor do golo no jogo mais importante da história do futebol português. Depois do remate de domingo, em Saint-Denis, Éder rematou nesta segunda-feira, em Lisboa: “É feriado hoje, caralho”.

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