Candidatura do montado de sobro a património da humanidade dá os últimos passos

O montado de sobro é o ecossistema perfeito: é um pilar da economia local e nacional, alberga grande riqueza natural, protege os solos desertificados contra a erosão e protagoniza algumas das mais belas paisagens portuguesas. Será que a UNESCO concorda?

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Daniel ROcha

A Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) está a finalizar o dossier, iniciado em 2010, para a candidatura do montado de sobro a património mundial da humanidade. A proposta deverá ser entregue nos próximos meses na Comissão Nacional da UNESCO, a quem cabe fazer a avaliação técnica dos documentos e decidir será haverá uma apresentação formal da candidatura à UNESCO. Se tudo decorrer como previsto, os responsáveis da ERTAR acreditam que o montado de sobro do Alentejo e Ribatejo poderá ser classficado como património da humanidade em 2018 ou 2019.

“Essa classificação vai valorizar todo este espaço, toda esta dinâmica de paisagem cultural única que é o montado. Será excelente para todo este território conseguir esta classificação, com vantagens a todos os níveis”, prevê Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, que explicou, ao PÚBLICO, que o dossier que vai ser entregue na Comissão Nacional da UNESCO“está já na fase final de elaboração técnica”, esperando que “o montado possa ser integrado na lista significativa nacional, para poder, num dos próximos anos, ser candidatado à UNESCO”.

Segundo Ceia da Silva, a comissão executiva de preparação da candidatura envolve a ERTAR, autarquias, organizações de produtores de cortiça e outras entidades ligadas ao sector. “Tivemos um processo muito participado e o documento final está praticamente elaborado. Esperamos que o montado possa vir a ser reconhecido pela UNESCO como um bem universal. O nosso objectivo é que isso aconteça em 2018 ou 2019. O trabalho técnico abrange o Alentejo e o Ribatejo. O que vai ser valorizado é todo este território. Como aconteceu com os dossiers do Douro ou do Pico, tem núcleos próprios de expressão que são os candidatáveis à UNESCO, embora todo o bem seja considerado”, sublinha.

Portugal tem maior mancha de montado de sobro do Mundo, com perto de 750 mil hectares, que correspondem a cerca de 21% de toda a floresta nacional. O país produz mais de 50% da cortiça mundial e exporta mais de 900 milhões de euros em materiais ligados à cortiça por ano. O Alentejo e o Ribatejo são exactamente as regiões onde mais predomina o montado e as áreas dedicadas a esta actividade florestal têm crescido nos últimos anos.

Ceia da Silva sabe que, hoje em dia, as actividades turísticas ligadas ao montado de sobro são muito escassas e conhece apenas alguns projectos de empresas da especialidade dedicados a roteiros de visita ao montado. “O potencial turístico do montado de sobro é enorme, desde os próprio tiradores de cortiça, às questões da identidade, aos produtos da cortiça, às visitas ao montado, às unidades de alojamento viradas para o montado, aos percursos turísticos associados ao montado. Eu diria que é infinita a valorização turística que pode existir”, sustenta o presidente da ERTAR.

Atrasos nos fundos comunitários prejudicam promoção turística
Um dos lamentos do presidente da ERTAR é que o novo quadro comunitário de apoio (QCA)  tarde tanto na sua aplicação efectiva. Ceia da Silva recorda que o QCA 2014/2020 já leva quase dois anos e meio e sublinha que, num país com parcos recursos, muitos projectos estão ainda pendentes da abertura dos respectivos concursos. “Tem prejudicado imenso os objectivos da ERTAR. Temos uma estratégia, fomos das poucas entidades que apresentou uma estratégia 2014/2020, que foi inserida nos documentos de planeamento regional, temos um conjunto de acções para serem implementadas nos próximos anos e estamos a aguardar há dois anos e meio que abram os concursos que possam permitir essas candidaturas”, lamenta o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.

Em resposta ao PÚBLICO, Ceia da Silva cita casos como todo o projecto de valorização da cultura avieira no Tejo, mas também os planos de promoção e marketing e os próprios planos de certificação de operadores turísticos. “Nós sabemos para onde vamos, temos um plano estratégico, mas está tudo pendente. Todos sabemos das limitações de verbas que o país tem e tudo está pendente da abertura de concursos para os fundos estruturais. Gostaríamos que este quadro comunitário estivesse operacional o mais rapidamente possível”, conclui.   

   

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