FC Porto 2016-17: a pressão das contas e a redefinição da política desportiva

De entre os vários desafios que se colocam aos “dragões” na próxima temporada, há quatro que se revelam determinantes. Pinto da Costa já deu algumas pistas.

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Miguel Riopa/AFP

Vivem-se dias atribulados no Estádio do Dragão e a entrevista concedida na quinta-feira pelo presidente do FC Porto serviu para lançar algumas pistas acerca do futuro próximo, mas também para, invulgarmente, assumir como perdida a batalha da presente temporada. Entre o mea culpa feito por Jorge Nuno Pinto da Costa e as directrizes enunciadas para atacar o ano desportivo de 2016-17, extraem-se quatro desafios que os “azuis e brancos” terão de enfrentar para conseguirem quebrar um jejum de títulos nacionais que, ao que tudo indica, deverá prolongar-se pela terceira época consecutiva.

1. A meta dos 72 milhões

No final de Outubro de 2015, aquando da divulgação das linhas mestras do orçamento para a actual temporada, Fernando Gomes foi claro: o FC Porto terá de realizar mais-valias com a venda de jogadores de 72,591 milhões para manter as contas em terreno positivo. Um anúncio feito pelo administrador da SAD semanas depois de terem sido divulgados os resultados do exercício de 2014-15, cujos 19,352 milhões de euros de lucros se devem a um encaixe-recorde de 82,5 milhões em transferências.

O que era suposto ter sido um ano excepcional no que ao mercado diz respeito terá, porém, de quase ser emulado em 2016 para nivelar a conta-corrente. A seu favor, o FC Porto tem o facto de poder incluir neste bolo os 22 milhões de euros líquidos decorrentes da saída de Alex Sandro para a Juventus (valor não incluído no relatório anterior) e parte dos 24 milhões pelos quais vendeu, em Janeiro, Imbula ao Stoke City (a receita líquida não é conhecida, até porque o plano de pagamentos do clube português ao Marselha se prolongava ao longo deste ano).

Em teoria, seriam sempre necessárias mais uma ou duas transferências avultadas para atingir o patamar dos 72 milhões, num quadro em que o plantel do clube não tem sido propriamente valorizado. Esta equação, porém, poderá sofrer um volte-face dado o acordo assinado em Dezembro passado com a Meo, que entre direitos televisivos (a partir de 2018), patrocínio das camisolas e exclusivo de transmissão do Porto Canal (já em vigor) representa um encaixe de 457,5 milhões de euros por um período de 10 épocas.

Os detalhes do negócio, nomeadamente o plano de pagamentos, não são conhecidos, ficando por saber até que ponto poderá ter impacto já no actual exercício, mas Pinto da Costa garantiu, em entrevista ao canal do clube, que o contrato em questão “vai permitir manter por mais tempo” os jogadores que a direcção não quer que saiam. Se este princípio se confirmar e se aplicar no imediato, a necessidade de voltar a sacrificar o plantel será, certamente, atenuada.

2. O futuro (do) treinador

Peça fundamental em toda a máquina do futebol portista, Pinto da Costa deixou apenas uma certeza relativamente ao treinador: “É com José Peseiro que estou a trabalhar no novo projecto e a analisar a equipa”. Isto significa que o técnico ribatejano vai cumprir o contrato até 2017? “Eu não garanto nada. No futebol, não se pode garantir nada”, limitou-se a referir o dirigente.


Em maré baixa, o presidente dos “dragões” está a ser mais cauteloso que o habitual. E mais comedido nas palavras do que num passado recente, quando fez juras de amor a Paulo Fonseca (“Se acabasse contrato hoje, renovava com ele”, garantiu em Janeiro de 2014) e a Julen Lopetegui (“Quero mantê-lo no FC Porto por muito tempo”, referiu em Novembro último).

O actual registo de Peseiro, que continua a enfrentar as dificuldades de quem salta para a carruagem com o comboio em andamento, está longe de agradar à direcção e aos adeptos: 15 jogos, nove vitórias e seis derrotas. E o recente desaire com o Tondela, o tal que envergonhou Pinto da Costa como nenhuma outro, terá apenas contribuído para adensar as dúvidas em torno do treinador.

“Estamos a avaliar jogadores que estão emprestados e envolvidos no nosso projecto. Tenho ano e meio de contrato e as avaliações podem vocês [jornalistas] fazer. Temos tido muitas reuniões a preparar a próxima época”, comentou Peseiro, na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Paços.

Uma coisa parece ser clara. Seja qual for o escolhido para 2016-17, não gozará da liberdade de escolha e de actuação que foi colocada nas mãos de Lopetegui: “Confiei em quem não devia. Isso não volta a acontecer”, asseverou o dirigente, referindo-se à carta branca que deu ao espanhol em 2014 e 2015 para decidir as contratações .

3. O reforço do plantel

Impedir o desmembramento do plantel, evitando o que aconteceu na época passada, com as saídas de Jackson, Danilo, Alex Sandro, Quaresma, Casemiro ou Óliver Torres é uma das prioridades da direcção do FC Porto, que ainda assim precisará de ir ao mercado para injectar qualidade em posições-chave.

O eixo da defesa será uma prioridade absoluta e a contratação de um central de qualidade insuspeita uma premente necessidade. Manter Layún (emprestado pelo Watford) será uma medida determinante para assegurar qualidade nas alas (seja à esquerda ou à direita), mas isso não invalidará a chegada de um lateral que dê mais garantias que José Ángel, por exemplo. O regresso de Rafa, cedido à Académica, é uma das hipóteses enunciadas.

De resto, e independentemente do anúncio dos regressos também de Otávio (V. Guimarães) e Josué (Sp. Braga), dois médios de características ofensivas, ficará ainda por preencher uma lacuna no ataque, sector no qual Aboubakar também precisará de um rival directo, se Suk e André Silva continuarem a funcionar como segundas linhas.

As previsões orçamentais apontam para 160 milhões de euros de gastos (107,8 de custos operacionais e o resto decorrente de amortizações, imparidades e perdas financeiras), num bolo que não inclui encargos com passes de jogadores, o que significa que o FC Porto terá de fazer um esforço financeiro extra, num contexto já de si delicado, para garantir um ou dois pesos-pesados.

4. A política de formação

Rúben Neves e Sérgio Oliveira têm sido os representantes da formação do FC Porto no plantel principal (apesar de outros aparecimentos esporádicos), num meio-campo em que Danilo é o único indiscutível. As dificuldades de financiamento junto da banca portuguesa e a utilização do clube, por parte de alguns jogadores, como mero porto de passagem para outras paragens leva Pinto da Costa a empunhar o discurso do atleta made in Porto.

Nesse sentido, Chidozie, Francisco Ramos e André Silva (avançado que nesta época somou 56 minutos apenas, mesmo num contexto de escassez de opções) serão definitivamente promovidos. A julgar pelo discurso do presidente dos “dragões”, esta filosofia será para reforçar, já que a grande bandeira eleitoral para o 14.º mandato é a “construção de um grande centro de formação” e a adopção de uma aposta real nos produtos das escolas.

Este será, porventura, o principal desafio que aguarda o FC Porto num futuro próximo. Combinar uma anunciada redefinição de política desportiva com resultados que são agora mais urgentes do que nunca.

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