Cascais sugere que a Carris opere em toda a Área Metropolitana de Lisboa

A proposta é de Carlos Carreiras, que não vê com bons olhos que cada município escolha o seu operador de transportes. Também o presidente da Transportes de Lisboa diz que chegou a hora de "desenhar algo que faça sentido e seja coerente", em vez de "cada um fazer o seu micro-desenho".

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O presidente da Câmara de Cascais acredita que haveria vantagens se a Carris fosse "o grande prestador de serviço de transportes" da AML Vitor Cid/Arquivo

O presidente da Câmara de Cascais defende que a Carris podia ser “o grande prestador de serviço de transportes” da Área Metropolitana de Lisboa (AML), alargando a sua actividade para lá dos concelhos em que opera actualmente. Para o autarca, esta solução contribuiria para a existência de um sistema “integrado” de transportes, algo que em seu entender não estará garantido se cada município “escolher o seu prestadorzinho de serviço”.

“Não vejo razões para que isso não aconteça”, afirmou Carlos Carreiras, que lamenta que o caminho que apontou não esteja “sequer a ser equacionado”. Reconhecendo que “nada do que foi feito nos últimos anos funcionou”, o autarca social-democrata defendeu que é tempo de “corrigir os erros” do passado, em nome da “coesão territorial e social”.

Carlos Carreiras falava no Fórum Mobilidade e Sistema Metropolitano de Transportes, uma iniciativa da AML que teve lugar esta quinta-feira, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Na sua intervenção, o presidente da Câmara de Cascais enunciou ainda a possibilidade de o alargamento da área de intervenção que propôs para a Carris abranger também o Metropolitano de Lisboa e a Transtejo, “entidades que têm competências e conhecimento acumulado para fazerem uma prestação de transporte público”.

Quanto à situação de Cascais, o presidente afirmou que o seu concelho está “no fim da tabela em termos de mobilidade”. “O transporte público ferroviário é o que é. Mais dia, menos dia acaba”, disse, criticando o “desinvestimento permanente ao longo de muitos anos” neste sector.

Também ao nível rodoviário foi negro o cenário traçado pelo autarca. “Estamos muitíssimo mal servidos”, constatou, acusando a empresa Scotturb de trabalhar com “prepotência, arrogância” e em moldes que promovem “um mau clima social”. O sistema de transportes públicos em Cascais, resumiu, “é um sistema perfeitamente de ruptura, que qualquer dia desaparece”.

O resultado, acrescentou Carlos Carreiras, é que 66% dos munícipes do concelho se deslocam em transporte individual, enquanto as percentagens daqueles que utilizam o comboio e o autocarro não vão além dos 11 e dos 8%, respectivamente. “O transporte público saiu completamente do modo de vida dos cidadãos”, lamentou.

Já o presidente da Câmara do Barreiro descreveu uma realidade bem diferente dessa. Segundo Carlos Humberto Carvalho, no seu município, que é servido pelos Transportes Colectivos do Barreiro (que é um serviço municipalizado) são mais os que viajam de autocarro do que aqueles que o fazem de carro. “Penso que é o único concelho do país em que isso acontece”, declarou.

O autarca comunista sublinhou ainda que “é indispensável” que o passe social seja repensado e alargado. Quanto à questão do financiamento do sistema de transportes, que “exige muito trabalho, muita reflexão e muita criatividade”, Carlos Humberto Carvalho disse que “não vale a pena ter ilusões”.

“Não conheço sistemas em regiões metropolitanas sustentáveis apenas com os valores da bilhética”, sublinhou, defendendo a necessidade de continuar a haver “compensações do Estado”, tanto ligadas ao serviço público prestado pelos operadores como à política tarifária. “Não é possível um sistema sustentar-se a si próprio sem esses apoios”, rematou.

Quem também sustentou que “não há um verdadeiro sistema de transportes que seja lucrativo ou sustentável sem subsidiação” foi o presidente da Câmara de Lisboa, que frisou que essa “é a realidade de todos os países e cidades”.

Na sua intervenção, Fernando Medina considerou que o sistema de transportes públicos hoje existente na AML “é profundamente desarticulado e desajustado”, ostentando “camadas sobre camadas”. O “desafio político” que se coloca hoje ao Governo e aos autarcas, acrescentou, é perceber “como pegar nesse emaranhado e projectar uma visão de futuro”.

Para o autarca socialista, essa visão deve incluir quatro aspectos: o sistema de transportes deverá ser “integrado” (tanto “nos meios” como na “área geográfica”), deve oferecer “credibilidade” aos cidadãos, deve ser “acessível” a todos (apresentando preços mais baixos do que os actuais) e também “sustentável”.

Também o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente admitiu que deverá continuar a ser necessária a existência de “mecanismos de compensação” aos operadores de transporte, para garantir o seu “equilíbrio financeiro”, constatando ainda que “o Estado terá que garantir a dívida histórica dos operadores”.

No caso concreto da Carris, o governante deixou claro que o entendimento actual é que “a gestão” da empresa “deverá estar muito mais próxima das autarquias” do que até aqui. Quanto à delegação de competências em matéria de transportes na AML, José Mendes considerou que este é um passo “positivo” no sentido de se alcançar “um sistema verdadeiramente metropolitano”.  

Outro dos intervenientes neste fórum foi o presidente da Transportes de Lisboa, segundo quem “está na hora de repensar tudo”. Para Tiago Farias chegou a hora de apostar no “planeamento” do sistema de transportes, algo que em seu entender implica uma mudança de comportamento dos técnicos e decisões políticos, que devem concentrar-se em “desenhar algo que faça sentido e seja coerente” e não em “cada um fazer o seu micro-desenho”. 

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