Os idosos votam mais à direita e os jovens mais à esquerda?

Podemos, genericamente, assumir que os idosos apresentam um posicionamento mais próximo dos partidos que representam a direita e que se abstêm menos.

Para responder à questão é importante operacionalizar o conceito de jovem e de idoso, bem como o conceito de esquerda e de direita. Para esta análise considerei como jovens os eleitores com idade inferior a 30 anos e idosos os eleitores com 65 ou mais anos. Relativamente à definição de esquerda e direita estabeleci como critério a votação nos partidos de esquerda (PS, CDU e BE) e os partidos de direita (PSD e CDS), respectivamente, nas últimas quatro eleições legislativas (2002, 2005, 2009 e 2011).

Para a análise política da questão, parece-me relevante distinguir três aspectos que estando interligados poderão ajudar na explicação da nossa decisão de voto: a proximidade partidária/identificação partidária; o posicionamento ideológico (no espectro esquerda-direita); e, por fim, a participação eleitoral.

Vamos, então, por partes. Constatamos, pela avaliação de estudos pós eleitorais, que os idosos se posicionam ligeiramente mais à direita do que os jovens. Por outro lado, os idosos apresentam níveis superiores de participação eleitoral. Facto que estará, naturalmente, relacionado com as suas vivências na mudança de regime e da valorização das mesmas. Nas eleições legislativas, dentro do período de estudo, vencidas pela direita (2002 e 2011) a probabilidade dos idosos votarem foi três vezes superior à dos jovens; consequentemente, foi nas eleições vencidas pela esquerda (2005 e 2009) que se verificou uma menor diferença na proporção de eleitores que exerceram o seu direito de voto, entre jovens e idosos. Ademais, é precisamente nas eleições vencidas pela esquerda que as divergências no voto esquerda-direita, entre jovens e idosos, se acentuaram - nessas eleições dois em cada três jovens votaram num dos partidos de esquerda e nos idosos os votos distribuíram-se de forma equitativa entre os partidos de esquerda e de direita. Contrariamente, foi no acto eleitoral de 2011 que se verificou uma menor votação à esquerda nestes dois grupos etários, porém a diferença na proporção de votantes à esquerda entre jovens e idosos foi similar à observada nas eleições de 2002.

Com base nestas constatações podemos, genericamente, assumir que os idosos apresentam um posicionamento ideológico mais próximo da direita e dos partidos que a representam; se abstêm menos; e que, quando votam, apresentam maior preferência, do que os jovens, pelos partidos de direita.  

Apesar destas conclusões gostaria de salientar algumas das limitações desta análise. Em primeiro lugar, saliento a notória subjectividade na definição e operacionalização do conceito de jovem e idoso. Em segundo lugar, é importante salientar que, mesmo na esquerda, encontramos efeitos da idade, isto é, o BE e a CDU seduzem diferentes eleitores, o que poderá introduzir alguma entropia na análise efectuada. Por fim, gostaria de relativizar a importância da idade/grupo etário e de outras variáveis de caracterização demográfica e socioeconómica na decisão de voto.  

Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto
Vice-presidente da DOMP

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