À volta do Tour: Os dentes de Zdenek Stybar

Ele já tirou a dentadura a meio de uma etapa, mas, desta vez, não foi preciso fazê-lo.

Foto
O sorriso perfeito do ciclista checo DR

Há um par de anos, na Volta a Portugal, um simpatiquíssimo Jason McCartney espantava todos os assistentes ao cortar a meta sem dentes. Sim, leu bem. Foto da vitória, a culminar uma escaldante jornada entre Aveiro e Viseu, e nem sinal dos dentes da frente do norte-americano. No pódio, pelo contrário, lá estava o sorriso imaculado. Ilusão de óptica? Alucinação provocada pelo calor? A resposta era bem mais simples: uma dentadura não aconselhada à prática desportiva. McCartney, retirado em 2013, não estará nesta Volta à França, mas até há poucas semanas era provável que a história se pudesse repetir com um protagonista diferente: Zdenek Stybar.

O drama do checo da Ettix-QuickStep conta-se de uma penada: queda num sprint no EnecoTour, provocada por um obstáculo mal sinalizado, três dentes partidos, fractura no maxilar superior. Naquele dia, recebeu uma prótese dentária.

A vida do ciclista de 29 anos prosseguiu com normalidade. Venceu pela terceira vez o Mundial de ciclocrosse, a disciplina que trocou, parcialmente, em 2012 para se aventurar na estrada. No Inverno, dedicou-se ao hotel familiar que abriu em Stribro. De regresso ao pelotão, venceu a duríssima e espectacular Strade Bianche, alcançando a nona vitória da sua carreira (no currículo tem uma etapa da Vuelta 2013). Acumulou lugares de honra nas clássicas da Primavera — “Cada corrida que ganhei ou em que tive resultados de relevo tinha empedrado. Até na Vuelta a etapa tinha cerca de um quilómetro de pavê”.

O percurso primaveril colocou o seu nome no topo das apostas para a Volta à Flandres. E Zdenek Stybar lá estava, a controlar a frente da corrida. Mas algo incomodava o campeão checo de 2014: a sua prótese estava solta. Desconfortável, sem conseguir comer, nem abrir as embalagens de gel que lhe passavam do carro, o ciclista da Etixx-Quickstep optou por retirá-la. Não foi além do nono lugar. “Foi uma corrida estranha. É difícil pesar quanto a perda dos dentes afectou o meu desempenho. Estava distraído, não sabia o que fazer. Como é uma prótese, estava a mexer-se, por isso tirei-a. Não é a melhor sensação correr sem os dentes”. 

O azar não o privou do bom humor. Nessa mesma noite de domingo publicou uma foto no Instagram, sem dentes, com a legenda “I’m sexy and I know it”. Três dias depois, voltava a partilhar uma selfie, desta vez de sorriso completo. “Por sorte, o meu dentista não estava de férias. Leu os meus emails, viu as fotos. Ligou-me e disse que me recebia na segunda-feira. Estive na sua cadeira até à meia-noite. Agora tenho dentes novos. Posso continuar”. E fê-lo de maneira brilhante, com um segundo lugar na clássica das clássicas, a Paris-Roubaix. Depois dos sete sectores de empedrado da quarta etapa, Stybar conseguiu cortar a meta sem precisar de tirar a dentadura.

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