“Não vamos para o Cerco”, o hino de protesto dos feirantes da Vandoma

Esta terça-feira foi uma tarde de protesto para os feirantes da Vandoma, em frente à Câmara Municipal do Porto.

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Rita França
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Contrariar a possível mudança da feira da Vandoma, das Fontainhas para a Alameda de Cartes na zona do Cerco, na Campanhã, foi o mote das dezenas de feirantes que protestaram na terça-feira à tarde em frente da Câmara Municipal do Porto.

O percurso começou no Passeio das Fontainhas, no lugar onde se realiza a feira histórica, que hoje enfrenta uma clara divisão no seu espaço. O fontanário é a fronteira, dizem os feirantes, entre a venda legal e a clandestina, uma dicotomia entre o sossego e os problemas. Um factor que não escapa ao centro da polémica e que, a par das queixas dos moradores a propósito da falta de higiene e segurança das ruas, terá motivado a proposta da autarquia em direccionar a feira da Vandoma para o Cerco.

“A minha feira é daquele lado”, aponta Isabel Rodrigues para um dos lados do fontanário, palavras que vêm reforçar que a Vandoma não é uma, mas sim duas feiras completamente diferentes. A feirante não é uma amadora nestas andanças, os 20 anos de trabalho nas Fontainhas e a voz já rouca denunciam a sua posição clara e convicta. “A nossa maior força é a feira da Vandoma não acabar, não queremos ir para o Cerco”, afirma.

O destino dos feirantes era a Avenida dos Aliados, onde a Câmara Municipal do Porto constituía a meta e a concentração de todos os argumentos. As preocupações pairavam na voz de todos durante o caminho, com a vontade de não desistir nem da Vandoma, nem das Fontainhas. Palmira Fonseca é feirante na Vandoma há 15 anos e admite que existem problemas, no entanto nada relacionado com aqueles que pagam todos os meses o seu espaço à câmara. “Do fontanário para lá, reservam lugares e depois cobram dinheiro às pessoas. Tudo isso provoca barulho de noite. A nossa parte é uma família, não temos problemas”, refere.

A insegurança não é assim tão inconstante quanto seria de esperar, especialmente quando o sentido de comunidade é parte assente na vida de alguns feirantes da Vandoma. José Gonçalves relembra um episódio em que a assistência médica a um amigo ficou comprometida porque a venda ilegal obstruiu a passagem da ambulância. Sabe que o problema tem de ser resolvido, mas de outra forma, e recorda o dia e as palavras que dirigiu a Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, quando este visitou a feira: “Sr. presidente, nunca tire a Vandoma das Fontainhas.”

O protesto não foi exclusivo dos vendedores, os compradores habituais também marcaram presença. António Mendes, de 83 anos, é um desses exemplos. O cliente de “há muitos anos” não concorda que a Vandoma abandone as Fontainhas, sobretudo quando existem rumores de que outra feira ocupe aquele lugar, a Feira dos Passarinhos. Para António, o processo assemelha-se à política, como quando “um indivíduo tem um amigo no Governo e pede para despedir uma pessoa qualquer para o colocar lá”, desabafa.

De 23 de Maio a 6 de Julho não haverá feira da Vandoma nas Fontainhas devido às festividades de São João na cidade, porém muitos consideram que este será um presságio daquilo que irá acontecer.

O PÚBLICO contactou a Câmara Municipal do Porto, que afirma já ter aberto um processo de consulta pública, no qual os feirantes podem manifestar a sua opinião e apontar sugestões, para que a partir destas seja tomada uma decisão definitiva.     

Texto editado por Ana Fernandes

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