Platini: “O futebol não é uma mercadoria comercial”

Presidente da UEFA defendeu que os interesses desportivos “devem sobrepor-se aos interesses comerciais” e pediu “tolerância zero” para a manipulação de resultados

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FPF

Candidato único às eleições na UEFA, Michel Platini será reconduzido em Março na liderança do organismo que tutela o futebol europeu. Será o terceiro mandato do ex-futebolista francês, que passou pelo congresso internacional Football Talks, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol, e apresentou a sua visão para o futuro do futebol. “O futebol do futuro deve ser social, responsável, exemplar e solidário”, defendeu o dirigente, tecendo críticas aos interesses comerciais que rodeiam a modalidade e defendendo a criação de uma polícia internacional para o desporto que assuma a responsabilidade de combater a manipulação de resultados.

O último relatório financeiro disponível no site oficial da UEFA, relativo a 2012-13, indica que a organização dirigida por Michel Platini teve receitas na ordem dos 1700 milhões de euros. Mas, no Estoril, o presidente da UEFA fez questão de frisar que o futebol “não é uma mercadoria comercial”. “Os interesses desportivos devem sobrepor-se aos interesses comerciais. É preciso repensar, proteger o futebol das ameaças. Resistir às tentações e aos cantos de sereia”, indicou o dirigente, questionando qual será o limite do aceitável: “Um dia teremos as bandeiras dos países com o patrocínio da Coca-Cola.”

Platini confessou não ser um “irredutível conservador”, mas defendeu que o futebol deve continuar a ser “um simples jogo, que suscita emoções”. “Devemos protegê-lo da pseudomodernidade”, vincou o francês, insistindo na proposta de introdução de um cartão branco, “para expulsões temporárias como há no râguebi e no andebol”. E realçou a necessidade de os responsáveis pelo desporto cooperarem com as instituições públicas no combate à manipulação de resultados, doping e hooliganismo. “A manipulação de resultados toca-me particularmente, porque parte dos jogadores. Defendo tolerância zero”, concluiu Platini, que em resposta a uma questão da plateia criticou a posse por terceiras partes da propriedade de jogadores: “Os jogadores não são animais. São património dos clubes. Agora temos os clubes falidos enquanto outras pessoas enriquecem. Há algo de errado.”

Antes de Platini, o vice-presidente da Associação Europeia de Clubes, Umberto Gandini, não quis alongar-se sobre o tema da posse partilhada dos passes de futebolistas. “Temos estudado a questão e sabemos que há clubes importantes a recorrer a esse instrumento. Nem tudo é bom e nem tudo é mau. É uma forma importante de financiar os clubes, mas temos de respeitar a decisão da FIFA de proibir os fundos. Não será o ponto final na discussão, mas temos de estar juntos na defesa do futebol europeu”, vincou.

Num outro tema Gandini foi mais assertivo: “Hoje em dia, o principal mecanismo de solidariedade [no futebol] é a venda centralizada dos direitos televisivos. Deve ser mantida e reforçada”, apontou o italiano, reconhecendo que há “defeitos enraizados na administração do futebol”. “Colocam-se novos desafios e o futebol não soube adaptar-se à velocidade da mudança. Há margem para melhorar o modelo de gestão da FIFA”, considerou o dirigente.

Noutra vertente, o presidente do comité de competições da UEFA, Michael van Praag, fez um balanço extremamente positivo da Liga dos Campeões jovem. “Estes dois primeiros anos foram de teste, mas agora tornou-se uma competição permanente da UEFA”, apontou o holandês, destacando a “experiência proporcionada aos jovens jogadores”. Michael van Praag revelou que a competição custa 7,5 milhões de euros ao organismo responsável pelo futebol europeu e levantou o véu sobre o novo modelo da prova, a entrar em vigor na próxima época. “O desafio era incluir os campeões nacionais juniores de cada país”, explicou o dirigente da UEFA, detalhando a solução encontrada: em 2015-16, tal como até agora, haverá uma fase de grupos com as mesmas 32 equipas da Liga dos Campeões. Os oito primeiros de cada grupo avançam para os oitavos-de-final. Em paralelo, 32 campeões nacionais vão jogar duas eliminatórias, apurando-se oito equipas que disputam com os segundos classificados da fase de grupos as restantes vagas.

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