“E agora?”, questionam-se os brasileiros confrontados com perda de Neymar

Presidente Dilma Rousseff lamenta drama da estrela “canarinha”, mas incentiva selecção de Scolari. Conquista do Mundial de 1962, com Pelé lesionado, serve de exemplo.

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Neymar lesionou-se durante o jogo frente à Colômbia Leonhard Foeger / Reuters

Juan Zuñiga é o inimigo número um do Brasil por estes dias. Responsável pela entrada faltosa que lesionou gravemente Neymar, colocando-o fora da Copa, o jogador colombiano conquistou a aversão do país, que clama por um castigo exemplar. Com ou sem punição da FIFA (que já anunciou ir analisar o caso), a “canarinha” está obrigada a reinventar-se sem a sua estrela. Uma “tragédia” que ensombrou os festejos da passagem às meias-finais, após um triunfo sobre a Colômbia, por 2-1. A própria presidente Dilma Rousseff admitiu ter ficado chocada com as imagens do futebolista a contorcer-se de dores no relvado. “E agora?” É a pergunta que todos fazem.

“Sua face de dor, ontem [sexta-feira] no gramado do Castelão [Fortaleza], feriu o meu coração e o de todos os brasileiros”, lamentou este sábado, Dilma Rouseff, numa carta aberta dirigida a Neymar. Em tom eloquente, a governante apelidou o futebolista de “grande guerreiro”, que já deixou a sua marca “na batalha vitoriosa” que trava a selecção brasileira.

A Presidente aproveitou o embalo para enviar uma outra missiva, no mesmo registo, aos “queridos jogadores e querida comissão técnica”, procurando incentivar o grupo para os próximos desafios: “Todo o Brasil já se sente vitorioso, porque além de estarmos realizando a Copa das Copas, temos a mais linda e aguerrida selecção em disputa. Como nunca, vocês estão fazendo nossos corações baterem em um só ritmo e nossas gargantas emitirem uma só voz de alegria e esperança. Avante, porque o principal já foi feito!”

Palavras encorajadoras que não serenaram a apreensão geral, reflectida pela comunicação social. “Uma pancada no Brasil” titulava o jornal O Globo, este sábado, com a foto da entrada violenta de Zuñiga nas costas de Neymar. No suplemento dedicado à Copa, o diário constatava o drama da equipa de Luiz Felipe Scolari sem a sua principal referência: “O Pesadelo.” A enorme consternação nacional com a perda de Neymar, levou mesmo o jornal carioca a distribuir uma edição especial, gratuita, com todos os pormenores do lance fatídico e suas consequências para o “escrete”. “Triste fim de Copa – Entrada violenta choca o mundo”, podia ler-se na capa.

 “Sem ele dá?” Interrogava-se, na sua primeira página, o Folha de São Paulo, que incluía uma infografia da lesão na vértebra lombar. “Selecção se classifica de forma sofrida, perde Neymar e precisa agora refazer o time para buscar uma vaga na final”, sintetizou o jornal. A perda de Neymar superou os destaques dados ao triunfo brasileiro no Estádio Castelão pela generalidade da imprensa e ocupou também toda a capa da revista semanal Veja: “Agora é na raça! – Atacado pelas costas pelo colombiano Zuñiga, o craque Neymar fractura uma vértebra e está fora da Copa.”

Na sua habitual coluna na Folha de São Paulo, o jornalista Juca Kfouri, autor de um dos blogues de desporto mais populares no Brasil, abria uma porta à esperança, com um exemplo do passado. “Neymar fez a sua pior actuação [frente à Colômbia]. Sem ele deu para vencer, dará para ganhar no Mineirão [Belo Horizonte] contra os alemães? Já deu até sem Pelé, porque não sem o menino?”. Kfouri aludia ao Mundial de 1962, no Chile, quando uma lesão muscular afastou Pelé logo após o segundo jogo, mas não impediu o Brasil de se sagrar bicampeão.

O próprio “rei” recordou o que se passou há 52 anos. “Neymar foi criado no meu Santos [clube paulista] e dói muito nossos corações saber que ele não poderá continuar defendendo o Brasil nesta Copa. Eu também me machuquei na Copa de 1962, no Chile, e fiquei fora durante o resto do torneio, mas mesmo assim Deus ajudou o Brasil a ganhar o campeonato. Espero que o mesmo aconteça com a nossa selecção nesta Copa”, escreveu Pelé em sua conta oficial no Twitter.

Despedida em Teresópolis
Em Teresópolis, no quartel-general da “canarinha, o próprio Neymar gravou uma última mensagem, antes de se despedir do grupo e regressar a casa, em Guarujá, no litoral do estado de São Paulo. “Me tiraram o sonho de disputar uma final da Copa do Mundo, mas o sonho de ser campeão mundial ainda não acabou. Faltam dois jogos e tenho certeza de que meus companheiros vão fazer de tudo para levantar a taça”, garantiu a estrela do Barcelona, fitando a câmara, instantes antes de ser transportado para um helicóptero numa cama improvisada. O médico da selecção disse que o jogador do Barcelona deverá precisar de 40 a 45 dias para voltar à plena forma.

Responsabilizado pelo drama de Neymar, Juan Zuñiga lastimou a lesão do seu colega brasileiro, mas rejeitou ter tido intencionalidade ou maldade no lance. “Lamento esta situação, que resulta de uma acção normal do jogo, com a qual não tive má intenção, maldade ou imprudência”, afirmou, antes de dirigir-se directamente à estrela brasileira: “Quero enviar-te uma saudação especial, Neymar. Admiro-te, respeito-te e considero-te um dos melhores do mundo. Espero a tua rápida recuperação, que voltes ao relvado, para que continues a animar-nos quando estamos a ver futebol.”

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