Porto, uma "cidade em transição" à boleia da cultura

Fundação Cupertino de Miranda cria programa centrado no Modernismo para lembrar aos portuenses que o seu cosmopolititismo pode ser uma via para resistir e ultrapassar as crises.

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A obra de Nadir Afonso vai abrir o ciclo Cidades em Transição, da Fundação Cupertino de Miranda Nelson Garrido

O Movimento Cidades em transição, criado na década passada em Inglaterra para apoiar iniciativas locais que ajudem as zonas urbanas a adaptar-se e a resistir aos choques provocados por crises energéticas, ambientais ou, no limite, económicas no seu todo, chegou ao Porto. A cidade tem já várias pequenas iniciativas que se inspiram nos conceitos desenhados por Rob Hopkins, mas a Fundação Cupertino de Miranda pretende pôr o Porto a olhar para si próprio, e a descobrir, na área da Cultura, vias para ganhar essa resiliência que a mantenha de pé perante os momentos menos bons.

Três exposições – a primeira, com 130 obras de Nadir Afonso, a abrir já a 18 de Junho – visitas guiadas ao Porto dos artistas, um ciclo de conferências sobre arquitectura e pintura, o Modernismo, os mercados da arte e as fundações são as componentes de um programa que terminará no final do ano com um “grande seminário internacional”. Realizado em parceria com a Fundação de Serralves, um dos vários parceiros desta iniciativa, este seminário terá como tema “Cidades em transição”, o tópico que a Cupertino de Miranda quer colocar na agenda do Porto.

A completar, em 2014, os 50 anos de existência, a Fundação Cupertino de Miranda aproveitou este que é normalmente um momento de crise, a da meia-idade, para reflectir sobre o papel deste tipo de instituições na cidade. E, explicou a sua presidente, Maria Amélia Cupertino de Miranda, entendeu-se que o aniversário deveria ser aproveitado para instigar uma mudança na sociedade portuense, num momento em que a região, como o país, perdeu muito do seu fulgor económico, muito emprego, mas ao mesmo tempo se vê incluída nos roteiros mundiais de turismo com um destaque que nunca se viu antes.

Para a presidente da fundação, o Porto tem dentro de si a chave para uma mudança que, partindo da cultura, pode contaminar as mentalidades e, em última análise, a economia local e regional. Essa chave chama-se cosmopolitismo, uma forma de estar aberta ao mundo que, segundo o historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida, curador deste programa, teve o seu apogeu na forma como artistas da cidade e da região, ou que por aqui viveram, se envolveram, com reconhecimento internacional, com o movimento modernista.

Nadir Afonso, artista plástico que faleceu no dia 11 de Dezembro do ano passado é o primeiro exemplo dessa ligação ao mundo, à vanguarda da primeira metade do século XX, com direito a destaque nesta programação. Seguir-se-ão exposições sobre a obra de Domingues Alvarez e Júlio Resende, a partir dos quais se realizarão visitas guiadas ao Porto presente nas suas obras. Podiam ser mais os artistas, frisou Bernardo Pinto de Almeida, lembrando a ligação de Amadeo de Souza-Cardoso ao Norte e outros nomes fortes do modernismo português como Fernando Lanhas (Porto, 1923-2012) que estarão em destaque na conferência o "O modernismo e o Porto", que se realizará neste segundo semestre, em data ainda a anunciar.

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