Deputado do PCP critica plantação de eucaliptos em Alqueva

A ministra da Agricultura foi instada a pronunciar-se sobre a alternativa que o presidente da EDIA defende para rentabilizar cerca de 20 mil hectares de regadio social.

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Região do Alqueva Nuno Oliveira

A plantação de eucaliptos em Alqueva, defendida pelo presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema,mereceu da parte do deputado comunista João Ramos, eleito pelo círculo eleitoral de Beja, um pedido de esclarecimento endereçado segunda-feira à ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas.

No documento a que o PÚBLICO teve acesso, é questionada a opção de Pedro Salema pela plantação de eucaliptos, frisando-se que em 2012 a indústria de celulose vendeu para a União Europeia e países terceiros “cerca de 845 milhões de euros”. Paralelamente, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos a 2012, realçam o grau de carência de produtos alimentares. O país importou naquele ano 67 mil toneladas de carne de bovino, 112 mil toneladas de carne de suíno, 374 mil toneladas de batata, 33.500 toneladas de feijão seco, 13.500 toneladas de grão-de-bico, 1,4 milhões de toneladas de trigo, 1,6 milhões de toneladas de milho e 59 mil toneladas de farinha de trigo.

Perante um tão acentuado “desequilíbrio” o deputado comunista considera “pouco sensato” que se pretenda promover a produção de matéria-prima para uma indústria em que o país “é mais que auto-suficiente”, ao mesmo tempo que se “ignora o conjunto de produções essenciais e estratégicas, que podem ser produzidas nos perímetros de rega de Alqueva”.

João Ramos recorre ao Boletim Estatístico da Indústria Papeleira Portuguesa, do ano de 2012, da responsabilidade da CELPA — Associação da Industria Papeleira para destacar o aumento entre 1995 e 2010 da área plantada de eucaliptos à custa de superfícies ocupadas por pinheiro-bravo, matos, pastagens e áreas agrícolas que, no seu conjunto somaram cerca de 70 mil hectares. Só assim se explica que, em 2012, Portugal tenha “exportado, 1 milhão de toneladas de pasta de papel e consumido no mercado interno 74 mil toneladas”. Os dados da CELPA referem ainda que da pasta de papel produzida em Portugal, “apenas cerca de 7% terá sido utilizada no país”, assinalou o deputado comunista.

Ainda em 2012 foram transformados sete milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto e destes, foram adquiridos 6,7 milhões metros cúbicos, dos quais 23% provêm de importação. “Daqui se depreende”, observa João Ramos, que a produção de eucalipto em Portugal “é mais que suficiente para alimentar as necessidades do país” e que a importação desta madeira “é para alimentar a vertente exportadora da indústria.”

No entanto, o Inventário Florestal Nacional, que o deputado consultou, realça o que refere ser um “problema de gestão” de recursos: mais de 100 mil hectares de povoamentos exclusivamente de eucalipto tinham idade superior a 12 anos, isto é, estavam além da idade ideal de corte. O volume da madeira assim retida superava os 10 milhões de metros cúbicos.

João Ramos pretende saber se Assunção Cristas “subscreve” a posição do presidente da EDIA, ou se lhe “pediu explicações” sobre o teor das declarações prestadas ao PÚBLICO. Solicitou ainda um esclarecimento sobre a eventual “participação” da empresa em algum grupo de trabalho com a indústria da pasta de papel, para avaliar a introdução de eucaliptos nos novos perímetros de rega do Alqueva.

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