Turismo no Algarve em lume brando e com muitas casas por alugar

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Ocupação hoteleira deve aumentar este ano Pedro Cunha

O início das férias pôs o Algarve a fervilhar, mas o ponto de ebulição só vai acontecer para a semana. A Associação dos Hotéis espera que a ocupação hoteleira aumente entre cinco a seis por cento.

Desde o fim-de-semana que a marina de Vilamoura se converteu na passarelle dos veraneantes que optam pelas praias da zona central do Algarve, de Faro a Albufeira, passando pelos empreendimentos de luxo - Quinta do Lago e Vale do Lobo. À noite, são milhares de pessoas a passear, com um olhar nos iates e o outro na descoberta dos VIP das revistas cor-de-rosa, que já deambulam por estas bandas. A música, vinda das esplanadas, inunda o espaço público, e os corpos circulam ao ritmo de sons ligeiros, como se fosse um arraial.

"Não haja ilusão quanto ao aumento do número de turistas", avisa o presidente da associação dos hoteleiros, Elidérico Viegas: "O Algarve tem estado a beneficiar da instabilidade no Norte de África - Egipto e Tunísia -, mas não se pode pensar nisso como um sinal de recuperação." Os ingleses regressaram ao Algarve, animaram bares e restaurantes, mas é aos portugueses que os industriais de hotelaria e similares piscam o olho.

"As pessoas ficam a olhar os barcos, mas bastava-lhes avançar um pouco para o interior de Vilamoura para descobrirem lugares atractivos". A sugestão é de Chalana, gerente do restaurante Concorde, dizendo que tem "trabalhado bem" com os clientes habituais, sobretudo ingleses. "Os portugueses só devem chegar em força daqui por uma semana", prevê. No passado fim-de-semana, o bar Pataca"s vendeu cinco barris de cerveja (250 litros). Filipe, o gerente, diz que no ano passado o consumo foi de oito barris. "Há muita gente, mas há menos dinheiro para gastar", observa. Elidérico Viegas tem esperança em que, a partir de dia 15 e até meados de Agosto, o Algarve fique cheio. "Haverá filas de trânsito para entrar em Vilamoura", adverte Filipe, criticando as obras em volta do anel da marina. "A intervenção deixou a zona mais bonita, mas o trânsito circula com mais dificuldade."

A pensar na avalancha de clientes, o barman já montou dois bares só esplanadas, com preços de concorrência. Uma rapariga loura, de cabelos ondulados, vende cerveja, em copos de plástico, 30 cl por um euro, no interior do bar, clássico, forrado a madeira. O preço em copo de vidro é 1,50 euros por 0,20 cl. O dono lamenta-se: no domingo, a caixa só fez oito euros.

Sinais de quebra

No Sotavento, a caminho de Vila Real de Santo António, há pequenos indícios de quebra de afluência de turistas nacionais, mesmo tendo em conta que este Julho ainda é um neófito. O número de placas a anunciarem apartamentos para alugar pode ser sintomático. É um mercado paralelo, ilegal, de que ninguém gosta de falar.

Diz quem sabe que "a coisa está mortiça", outros confiam que "mais uma semaninha e isto compõe-se". "Sabe, amigo, ainda há exames e matrículas nas escolas, pelo que o pessoal só vem na segunda quinzena. Pelo menos tem sido assim nos últimos 30 anos", diz um dos empregados do restaurante Costa, no sítio da Fábrica, Cacela Velha. O restaurante funciona a menos de um quarto da capacidade.

Para trás ficaram a Manta Rota e Monte Gordo. Ambas a preceito, na qualidade da água, no arranjo do areal, dos apoios e asseio, com a bandeira azul hasteada. A percepção pode enganar, pois aquelas praias são das maiores do Algarve, com extenso areal, mas muitas cabeças não chegam para fazer uma multidão, que, no caso de Monte Gordo, é a predilecta e a mais próxima dos alentejanos.

Às "moscas" têm ficado as sombras das praias, em Monte Gordo ou na Terra Estreita, em Tavira. O preço do aluguer dos colmos - com duas espreguiçadeiras incluídas - pode causar alguns engulhos, pois sobe até 18 euros por dia (na concessão de A Vida é Bela). Na Manta Rota, aquela sombra pode valer 300 euros por um mês de banhos.

Em Cabanas, a maioria das casas de veraneio ainda está fechada e o negócio do estio não corre de feição. Há empregados a mais nos cafés para tão poucos clientes, que, na maioria, falam outras línguas. E o aluguer de apartamentos parece estar no início. Não é habitual, para esta altura, haver mais que duas quinzenas ainda em aberto. Uma breve auscultação ao mercado indica que o preço médio é de 1000 euros por um T2 e de 1500 por uma moradia de baixa tipologia. E ainda há muito por onde escolher.

Em Vila Real de Santo António, os atoalhados em saldo já pouco atraem o cliente espanhol, e nos restaurantes o mais vulgar é ver café e água sobre as mesas. O negócio só floresce para quem se reconverteu a outro ramo. Artigos de ménage, sim, modernos e de design atraente, pois há estabelecimentos com duas e três portas abertas. Outros estão encerrados, mas a preparar mudanças.

Chega-se a Olhão, e na "Meca" do peixe o mercado está agitado às 10h, para entrar em saldo logo às 11h. Sardinha a 1,50 euros, "para acabar". "É mais malta da terra que forasteiros", sentencia o vendedor. Em Faro, diz-se que o Verão só começa com a chegada dos motards para a concentração. Iron Maiden para abrir. Diz-se que vai ser de arromba, a condizer com 30 anos de tradição.

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