Rebeldes acusam Exército do Sudão do Sul de furar acordo de cessar-fogo

Combatentes da minoria nuer denunciam actividade militar nos estados de Unité e Jonglei, os mais ricos em recursos petrolíferos. Governo desmente e garante que "nem um tiro foi disparado" depois da assinatura das tréguas.

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Porta-voz do Exército desmentiu acusação dos rebeldes REUTERS/George Philipas

Os combatentes rebeldes acusaram o Exército do Sudão do Sul de prosseguir os combates nos estados petrolíferos de Unité e Jonglei, um dia depois da assinatura de um acordo de cessar-fogo que previa a cessação imediata das hostilidades. A acusação foi desmentida pelas forças governamentais.

“As forças do Presidente Salva Kiir estão neste momento a atacar as nossas posições no estado de Unité”, afirmou o porta-voz dos rebeldes, Lul Ruai Kuang, à agência AFP. Num comunicado divulgado já depois destas declarações, os rebeldes mencionam uma outra ofensiva das forças do Exército no estado de Jonglei.

A AFP nota a impossibilidade de verificar a informação de forma independente, uma vez que não se encontram observadores imparciais nos locais em causa. O porta-voz do Exército do Sudão do Sul, Philipo Aguer, garantiu que “todas as informações de que dispomos até ao momento mostram que a situação está calma e nenhum combate foi assinalado”, acrescentando que as movimentações a que os rebeldes se referem, nomeadamente em Jonglei, aconteceram ontem antes da assinatura de uma trégua no conflito.

O Sudão do Sul, que obteve a independência em 2011, está a viver desde meados de Dezembro um conflito político e sectário que opõe o Governo do Presidente Salva Kiir, de etnia dinka, e os apoiantes do seu antigo vice-presidente Riek Machar, da minoria nuer, que foi demitido em Julho por alegada tentativa de golpe de Estado.

A violência tomou conta de todo o país e forçou meio milhão de pessoas a abandonar as suas casas. O número de mortos já ultrapassou os mil e de acordo com alguns analistas poderá ascender a dez mil. A Organização das Nações Unidas (ONU) já denunciou a ocorrência de massacres e atrocidades como violações ou execuções sumárias.

Depois de três semanas de negociação, sob os auspícios da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), um bloco regional africano, as delegações governamental e rebelde chegaram a um consenso para um acordo de cessar-fogo, assinado esta quinta-feira em Addis-Abeba, a capital da Etiópia. Os dois lados comprometeram-se a suspender toda a actividade militar e congelar as suas posições no terreno, e aceitaram a nomeação de uma estrutura para a verificação e controlo do cessar-fogo.

“Que eu saiba, os combates pararam ontem e não foram retomados até ao momento”, disse à AFP o porta-voz da presidência, Ateny Wek Ateny. “Nem um tiro foi disparado. O Governo não deu nenhuma ordem de combate depois de assinar o acordo de cessar-fogo”, declarou.
 

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