Oposição síria quer ajuda “contra o terror, venha de grupos terroristas ou do Estado”

Barris com explosivos largados pelo regime matam pelo menos 25 civis em Alepo, onde o ataque contra uma base da Força Aérea desencadeou violentos combates.

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O bombardeamento que matou 18 civis num bairro de Alepo Zein al-Rifai/AFP

A oposição síria no exílio quer abrir-se aos grupos de opositores que se encontram dentro da Síria e tentar relançar um processo de negociações que “ponha fim ao banho de sangue, aos massacres”. “O que pedimos à comunidade internacional é que se una aos sírios contra o terror, venha este de grupos terroristas ou do Estado sírio”, disse o líder dos opositores exilados, Khaled Khoja, entrevistado pelas agências internacionais numa visita a Paris.

Khoja, eleito em Janeiro como chefe da Coligação Nacional Síria, esteve com o Presidente francês, François Hollande, e com o enviado da ONU para o país, Staffan de Mistura. Depois do fracasso das rondas de negociações promovidas pelas Nações Unidas, este sírio de 50 anos, a viver no exílio desde os anos 1980, quer reforçar a posição do seu grupo antes de voltar à conversa com o regime. A saída de Bashar al-Assad continua a ser um objectivo “mas não é uma pré-condição ao início do processo [negocial]”.

“Devemos livrar-nos de Bashar”, afirma Khoja. “Mas estamos prontos a negociar com o resto do regime, a preservar a continuidade do Estado, a proteger as instituições, o Exército, os ministérios. Quando falamos de derrubar o regime, não estamos a falar de derrubar o Estado”, explica. “Temos de pôr em marcha uma nova estratégia, lançar um diálogo com todos os grupos da oposição e personalidades que queiram estabelecer uma nova Síria, baseada na liberdade, no direito e no respeito de todas as comunidades religiosas.”

Mais de 200 mil mortos depois, com nove milhões de sírios (um terço da população) refugiados no estrangeiro (três milhões) ou deslocados dentro do país (6,5 milhões), uma nova Síria como a descrita por Khoja parece muito longínqua.

Enquanto o opositor estava em Paris, violentos confrontos decorriam em Alepo, a maior cidade da Síria, antiga capital comercial do país, cenário de guerra desde 2012. Há meses que o enviado da ONU tenta negociar um congelamento dos combates em Alepo, num plano que visava começar por fazer cumprir um cessar-fogo numa zona e depois, aos poucos, alargá-lo à enorme metrópole, abrindo caminho à entrada de ajuda e à reconstrução. Mostrar que a paz era possível ali primeiro, para permitir que um dia essa realidade se replicasse noutras zonas.

“Ele tenta fazer qualquer coisa, a sua tarefa não é fácil”, diz Khoja, ao mesmo tempo que critica a passividade internacional perante o drama sírio. “Desde o fim de 2011 que informámos os nossos aliados ocidentais do crescimento do fenómeno jihadista, favorecido pelo regime”, afirma. “Infelizmente, os nossos aliados contentaram-se em ficar a assistir e aqui estamos hoje, face ao [autodesignado] Estado Islâmico”, lamentou. “Ninguém nos apoiou face à emergência deste monstro. E agora temos as forças de Assad que nos atingem com barris de TNT lançados do ar e os jihadistas que nos matam em terra.”

É mais ou menos isso que se passa no Norte da Síria, onde esta quinta-feira os barris com explosivos que a aviação síria lança quotidianamente mataram 25 pessoas. Pelo menos 18 civis foram mortos e “totalmente queimados” num raide que atingiu “filas para comprar gasolina no bairro rebelde de Qadi Askar, no Leste de Alepo”, denuncia o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. A mesma ONG diz que pelo menos seis estudantes e um professor foram mortos num bombardeamento do regime perto de uma escola numa vila junto a Idlib, no Noroeste do país.

Ao mesmo tempo, decorrem em Alepo “violentos combates entre o regime e rebeldes”, diz o Observatório. Os confrontos começaram depois do ataque, na véspera, contra o quartel-general da secreta da Força Aérea, reivindicado pela Frente al-Nusra, um grupo de combatentes ligado à Al-Qaeda. O ataque, que começou com a explosão de uma bomba colocada no subterrâneo do edifício, fez 34 mortos.

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