Tsipras não conseguiu ganhar o primeiro debate das eleições gregas

Com 10 a 20% de eleitores ainda indecisos, e um cenário de empate virtual entre o Syriza e a Nova Democracia, ninguém se arriscava a apontar vencedores entre os concorrentes ao cargo de próximo primeiro-ministro.

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Da esquerda para a direita: Panagiotis Lafazanis, Evangelos Meimarakis e Alexis Tsipras Michalis Karagiannis/REUTERS

O analista Nick Malkoutzis resumia assim o debate de quarta-feira à noite na televisão pública grega: “É como ver actores amadores numa audição para um papel de um político que não tem ideia como tirar o país da beira do abismo”. Temas-chave como o emprego, num país com 25% de desemprego, não foram mencionados.

Ainda assim, analistas dizem que o primeiro debate desde 2009 com todos os partidos com assento parlamentar, excepto o neonazi Aurora Dourada (com que nenhum outro partido aceita dialogar), poderá servir para esclarecer melhor a grande quantidade de indecisos – que, segundo as sondagens, vão entre 10 a 20% – numa corrida em que os dois principais partidos, Syriza (coligação de esquerda radical) e Nova Democracia (conservador) estão praticamente empatados nas sondagens, com cerca de 25% cada e meio ponto percentual de diferença.

O ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras demitiu-se, precipitando eleições, depois de uma revolta de deputados no seu partido que se recusaram a aprovar o memorando com os credores para um terceiro empréstimo de mais de 85 mil milhões de euros para os próximos três anos. O primeiro Governo de esquerda da Grécia - descontando o Pasok, o Partido Socialista - esteve no poder sete meses, marcados por negociações duras com a União Europeia.

O mantra de Tsipras é este: o seu governo foi o primeiro que negociou duramente com os credores, questionou a viabilidade da dívida, que será entretanto discutida, e acabou por ceder por não haver alternativa melhor. “Gostava de ouvir alguém que tivesse um plano melhor”, disse Tsipras no debate.

Quanto à nova eleição, o argumento é: já que é preciso um memorando, que seja levado a cabo por um partido “novo”, sem ligação ao “antigo sistema político” marcado pela corrupção e clientelismo.

Mas o cenário parece cada vez mais levar a que se o Syriza for vencedor, tenha de se aliar com um partido diferente do seu actual parceiro de coligação, os Gregos Independentes (direita nacionalista). Poderia ser o partido do centro O Rio, To Potami, que se afirma também como uma força nova e não marcada pela corrupção. “Em vez de esquerda pela primeira vez, que tal sério pela primeira vez?”, sugeriu o líder do partido e antigo jornalista Stavros Theodorakis no debate, propondo: “Educação, trabalho, sem corrupção”.

O partido To Potami luta, no entanto, pelo terceiro lugar com outras forças desde o neonazi Aurora Dourada (que se espera sempre que tenha mais do que as sondagens, já que os seus eleitores têm muitas vezes vergonha de admitir nos inquéritos o seu sentido de voto) ao Pasok (que se aliou com um partido de centro-esquerda, Dimar).

Quanto à Nova Democracia, a popularidade do seu líder, Evangelos Meimarakis, tem subido nas sondagens apesar de ser uma figura considerada da velha guarda do velho partido conservador e de ser um líder interino. A subida é atribuída ao seu modo afável e terra-a-terra, contrastante com a rigidez do seu antecessor e antigo primeiro-ministro, Antonis Samaras.

“Não vamos prometer nada”, disse Meimarakis no debate. “Vamos tentar aumentar o investimento” no país, que diminuiu ainda mais após a subida ao poder do Governo de Tsipras que, acusou, “destruiu a economia”.

Tsipras foi ainda atacado pelo dissidente do seu partido, Panagiotis Lafazanis, que após a saída do Syriza criou um novo partido, Unidade Popular, que tem entre 3 a 5% nas sondagens. “Não há memorandos bons ou maus”, disse, referindo-se aos acordos com os credores. “Todos levam à catástrofe”. Para Lafazanis, a solução é deixar de encarar a saída do euro e regresso a uma moeda nacional como um tabu.

Que coligação?

Parte do debate andou à volta da questão de coligação poderá sair destas eleições, com toda a apreensão de que um resultado pouco claro possa levar a uma repetição das eleições como aconteceu em 2012.

Meimarakis insistiu que se coligará com o Syriza num governo de unidade nacional, e acusou o partido de Tsipras de querer levar o país a uma segunda volta de eleições se não vencer com a maioria que tem pedido.

O líder do Syriza disse que não se aliaria com a Nova Democracia, Pasok, ou Potami, mas mais recentemente excluía apenas a Nova Democracia.

Já Stavros Theodorakis disse que iria coligar-se com “quem fosse preciso, até com o diabo”, para que o país tenha um governo estável, evite novas eleições, e cumpra o prometido no memorando para os próximos três anos. O diabo exclui, no entanto, os neonazis da Aurora Dourada.

O acordo entre a Grécia e os credores para os próximos três anos tem entregas de capital ligadas muito intimamente com a aprovação de medidas, pelo que a Grécia não tem margem para não cumprir o acordado.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já avisou que o novo Governo tem de respeitar o acordo, ou abre-se de novo o cenário e uma saída do euro.

Enquanto na anterior negociação “foi absolutamente essencial dizer que o Grexit não era uma opção, porque se não tivéssemos dito isso claramente, poderia ter acontecido”, agora não será assim, declarou Juncker: “Se desta vez o que foi acordado não for respeitado, a reacção da União Europeia e da zona euro será diferente”. Teme-se assim que o que esteja em causa seja: estabilidade governativa para cumprir as medidas prometidas, ou o espectro da saída do euro volta a estar em cima da mesa.

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