Informação sobre cidadãos poderá ficar guardada em empresas privadas, admite Obama

Presidente dos EUA exclui fim dos programas de espionagem em larga escala, mas reconhece que é preciso dar mais confiança aos cidadãos.

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O Presidente dos EUA respondeu a perguntas na última conferência de imprensa de 2013 Larry Downing/Reuters

O Presidente dos EUA, Barack Obama, admitiu nesta sexta-feira que uma parte da informação em larga escala que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla original) guarda nas suas bases de dados pode ficar armazenada nos servidores de empresas privadas, mas reforçou que o país precisa dessa informação.

Na última conferência de imprensa do ano, na Casa Branca, Obama falou e respondeu a perguntas sobre os principais assuntos que marcaram 2013, entre os quais as revelações sobre os programas secretos de vigilância electrónica e a crise política no Congresso que levou à paralisação do governo federal, em Outubro.

Sobre a espionagem da NSA, o Presidente dos EUA disse que vai analisar "nas próximas semanas" as recomendações feitas por um painel independente de peritos nomeado pela Casa Branca, que detectou falhas nos procedimentos da agência e propôs que a agência seja impedida de guardar meta-informação (números de telefone, hora e duração de uma chamada telefónica ou endereço e assunto de um email, por exemplo).

Apesar de admitir que essa proposta merece ser discutida, Barack Obama não se comprometeu com nenhuma decisão e sublinhou que os EUA não podem "desarmar-se unilateralmente", referindo-se a um hipotético fim dos programas de espionagem em larga escala.

"A informação pode ser recolhida com mais garantias", disse o Presidente norte-americano, manifestando confiança na capacidade de "redesenho" dos programas de forma a dissipar as dúvidas existentes na opinião pública quanto ao potencial de abuso da informação e violação da privacidade. "Penso que saberemos encontrar uma forma de o fazer, com suficiente transparência e debaixo de supervisão", acrescentou.

Obama prometeu para Janeiro uma posição política definitiva relativa à reforma no funcionamento da NSA, mas antes disso quis deixar clara a sua "total confiança" de que a agência norte-americana "não está envolvida em nenhuma actividade de vigilância doméstica ilegal".

Outra garantia que Barack Obama fez questão de deixar na sua última sessão de perguntas e respostas de 2013 com os jornalistas da Casa Branca foi a de que não irá ceder à pressão dos legisladores republicanos no Congresso durante o processo de negociação do aumento do tecto da dívida pública norte-americana.

O Presidente saudou a assinatura de um acordo entre as bancadas democrata e republicana do Congresso que permitiu fechar o processo de aprovação do orçamento do governo federal, ao fim de dois anos de impasse, mas foi cauteloso em declarar o início de uma nova era de bipartidarismo.

Quanto ao aumento da capacidade de endividamento dos EUA, que terá de ser renegociado antes do país voltar a atingir o limite da dívida pública, previsto para Março, Barack Obama foi peremptório: "Não, não vamos negociar com o Congresso o pagamento de dívidas já acumuladas."

"Tenho de assumir que as pessoas não são assim tão loucas para começarem tudo de novo", disse Obama, numa mensagem para o Partido Republicano, que ficou marcado pela opinião pública como o principal responsável pela paralisação do governo.

Questionado pela correspondente da Associated Press na Casa Branca, Julie Pace, sobre se 2013 foi o pior ano da sua presidência, Barack Obama riu-se. "Julie, eu não penso nisso dessa forma", afirmou o Presidente norte-americano, antes de dizer que teve "altos e baixos" desde que chegou à Casa Branca. "Se me importasse muito com sondagens nunca teria concorrido à presidência", acrescentou, referindo-se à queda da taxa de aprovação do seu desempenho.

No entanto, Obama reconheceu alguns erros, desilusões e também várias frustrações durante o ano que está a terminar. Referindo-se ao desastroso lançamento do programa informático que facilitaria a adesão da população aos programas de seguros de saúde abrangidos pelo chamado Obamacare, o Presidente assumiu pessoalemte a responsabilidade por ter defraudado as expectativas. "Metemos o pé na argola, e ninguém mais do que eu, que sou o responsável máximo", penitenciou-se.

Depois lamentou o falhanço na aprovação de um novo pacote legislativo para a restrição do acesso às armas de fogo, que foi votado em Abril e que Obama pessoalmente promoveu no rescaldo da tragédia na escola de Newtown, no Connecticut, em que 26 crianças e professoras morreram. E finalmente, exprimiu a sua frustração com a "inacção" do Congresso em dossiers que foram apontados como prioritários pela Casa Branca, nomeadamente a reforma do sistema de imigração. "Mas o fim do ano é uma boa altura para reflectir, e depois de uns dias de sol e descanso acredito que terei umas boas ideias para fazer mais e melhor em 2014", estimou.

Entre outros assuntos, Obama respondeu a uma pergunta sobre a comitiva que irá representar o país nos Jogos Olímpicos de Sochi, na Rússia. Questionado sobre se a inclusão de duas atletas lésbicas é uma mensagem para Vladimir Putin, contra as leis antigay aprovadas no país, o Presidente dos EUA disse que a composição da comitiva "fala por ela própria".

O Presidente partiu com a família para uns dias de férias no Havai, onde foi criado.

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