Montanha de entulho ilegal soterra 85 pessoas na China
Autoridades tinham mandado encerrar a lixeira, o que nunca aconteceu.
Era um desastre anunciado, mas as autoridades, que chegaram a emitir uma ordem para que a zona de despejo de construção civil fosse encerrada, nunca agiram. E, ao final da manhã de domingo, um milhão de metros quadrados de entulho de obras e de terra caiu sobre um parque industrial de Shenzhen, cidade do Sul da China. As equipas de socorros procuram sobreviventes, havendo 85 pessoas desaparecidas.
O Governo abriu um inquérito para apurar responsabilidades, anunciou o primeiro-ministro, Li Keqiang. Para já, e pelo que se sabe, estas deverão ser divididas entre a empresa que explorava o local, a Hongao Construction Waste Dump, e as autoridades responsáveis pela fiscalização da segurança do local.
O Ministério do Território e dos Recursos Naturais chinês emitiu rapidamente um comunicado a dizer que as causas da catástrofe “são de origem humana” — uma montanha de entulho acumulada ilegalmente numa colina da cidade caiu, soterrando uma vasta área do Parque Industrial Hengtaiyu, no Novo Distrito de Guangming, enterrando 33 edifícios, entre fábricas, escritórios e dormitórios de trabalhadores.
“Vi as casas afundarem, todas as fábricas foram engolidas”, disse à AFP uma testemunha, Liu Youqiang, de 45 anos.
Segundo os dados obtidos pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, a acumulação de entulho de obras naquele local começou há dois anos. A cidade de Shenzhen (vizinha de Hong Kong) é uma das que assistiu a um maior crescimento urbano no país e o entulho acumulado aumentou, tornando inadequada a estrutura que a empresa criou para o manter seguro.
Em Fevereiro, a empresa que explora o local pediu a renovação da licença de funcionamento, mas os inspectores — cujas conclusões as autoridades do Novo Distrito de Guangming divulgaram, para provar que foram feitas — consideraram que não cumpria os critérios de segurança e ordenaram que fosse encerrado até serem feitos os trabalhos necessários para garantir a estabilidade da estrutura. Porém, diz o South China Morning Post, o encerramento, previsto para Setembro/Outubro, nunca aconteceu — os camiões continuaram a despejar entulho.
Os sinais de que a lixeira estava cada vez mais instável deram origem a várias queixas de moradores da zona, prossegue este jornal — alertaram as autoridades para a cada vez maior quantidade de camiões que chegavam e para a instabilidade da montanha de pedra, tijolo e cimento que apresentava uma inclinação que consideravam perigosa.
Em Janeiro, um relatório ambiental alertava também para os riscos de derrocada uma vez que o terreno estava instável. Provou-se que o relatório e os moradores estavam certos — no domingo, depois de algumas horas de chuva que ajudou a soltar a terra, a montanha de um milhão de metros quadrados de lixo da construção civil caiu.
Numa conferência de imprensa, o vice-presidente da câmara de Shenzhen, Liu Qinsheng, disse que uma área equivalente a 38 hectares (perto de 60 campos de futebol) ficou soterrada por uma massa de lama e entulho que, em vários locais, tem dez metros de altura.
Foi de debaixo desta massa que foram retiradas sete pessoas com vida — o número inicial era de 91 desaparecidos. Há 16 feridos hospitalizados. Mas falta encontrar 85.
Nesta segunda-feira, relata a Xinhua, as equipas de socorro (mil pessoas auxiliadas por escavadoras e outras máquinas) conseguiram entrar no primeiro andar de um prédio de escritórios onde procuraram sobreviventes. “Mas a operação de socorro é extremamente difícil devido à lama e ao entulho”, disse um bombeiro, Cui Bo, à agência noticiosa chinesa.
O desastre de domingo é o mais recente exemplo de uma longa série de acidentes que têm ocorrido por falta de cumprimento das regras de segurança em zonas de grande aceleração económica — Shenzhen é o motor industrial de Guangdong, a província que lidera as reformas na China e que vive em permanente pressão para manter a vanguarda do crescimento económico, da inovação e da urbanização do país.
Em Agosto, noutra cidade do país, Tianjin (Norte), uma explosão na zona portuária matou 160 pessoas. A investigação revelou que a área crescera de forma ilegal, perante a ineficácia das autoridades portuárias e dos inspectores, e albergava armazéns de produtos químicos, também ilegais.