“Fica bem, Madiba. Sentiremos falta das tuas gargalhadas”

Na última despedida e funeral de Estado, Nelson Mandela foi saudado como um “campeão da causa pela humanidade” e um líder que mostrou ao mundo o que é o “espírito da resistência”.

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Entre discursos sobre a coragem e o “espírito de resistência” de um activista e o percurso exemplar de um combatente, Nandi partilhou a sua visão pessoal, mostrando mais uma vez como Mandela pode ser uma fonte de inspiração, para quem o conheceu, e quando se trata de celebrar o seu legado e a sua vida.

Nelson Mandela, que vivia amargurado com a ideia de ter sido um pai ausente, e pensava não ter estado à altura dos familiares quando estes mais precisaram dele, é descrito pela neta como um maravilhoso contador de histórias. Por instantes, Nandi Mandela falou directamente ao avô, em inglês – “Sentiremos falta da tua voz, e das tuas gargalhadas” – e no fim em xhosa: "Fica bem, Madiba. Fica bem, Madiba, na terra dos teus antepassados. Correste a tua corrida.”

Depois da homenagem, vista por milhões de pessoas, no grande estádio de Joanesburgo na terça-feira, o ex-Presidente voltou a ser objecto de tributo num funeral de Estado, transmitido também em directo para todo o mundo.

A cerimónia começou cedo e prolongou-se por quatro horas, na presença da viúva, Graça Machel, da ex-mulher Winnie Mandela, das três filhas do líder, dos netos, companheiros de luta, líderes do Congresso Nacional Africano (ANC), chefes militares, representantes do Governo, da Justiça e do Parlamento, chefes tradicionais e líderes religiosos, e muitos outros, como o reverendo e activista pelos direitos cívicos Jesse Jackson, a vedeta de televisão Oprah Winfrey, o príncipe Carlos em representação da rainha de Inglaterra, o príncipe Alberto do Monaco, os chefes de Estado de países como a Tânzania ou o Malawi. Foi Joyce Banda, Presidente do Malawi, quem homenageou Mandela como “o campeão da causa da humanidade”. 

Só alguns convidados se juntaram depois aos membros da família para a silenciosa caminhada até à sepultura onde Madiba desejava ser enterrado ao lado dos filhos que perdeu em vida, no jardim da casa que construiu e onde escolheu passar os últimos tempos de vida (antes de ser internado em Pretória).

“Um dia memorável”
Em Mthatha, cidade mais próxima de Qunu, na província do Cabo Oriental, o comércio, que habitualmente abre ao domingo, esteve fechado. Mensagens foram enviadas para avisar que tudo estaria fechado em honra do ex-Presidente, diz a sul-africana Michelle Harris, que esteve a trabalhar nos preparativos do funeral em Qunu. “Toda a gente se juntou para tornar este dia memorável. Foi bonita a festa e bonito o gesto”, congratula-se. Durante os dez dias de luto nacional, desde a morte a 5 de Dezembro, jornais e revistas dedicaram várias páginas e suplementos nacionais a Mandela. E nas páginas de publicidade também os anunciantes homenagearam Mandela.

“A morte de Madiba só acontece uma vez”, escreveu o Mail & Guardian que, num artigo, entre as dezenas que publicou sobre Mandela, o saúda como “um autocrático democrata” e lembra que o herói, longe de ser um santo, foi em tempos um líder de decisões controversas, como a defesa da luta armada, e que deu provas de intransigência em encontros do partido. Esse lado, que o Mail & Guardian reconhece ter sido “pelo bem da nação”´, contrasta com a imagem, em Qunu e no mundo, de um Mandela conciliador, que se transformou num ícone da reconciliação.

Em Qunu, aldeia da província do Cabo Oriental, onde vive a maioria dos sete milhões de xhosas da África do Sul, vê-se à distância a aldeia de Mquekezweni, o lugar onde Mandela aprendeu a escutar os outros.
“Foi na aldeia de Mquekezweni, [onde viveu depois da morte do pai] que ele aprendeu o conceito e o valor da democracia”, diz Gudiswa Soyaya. “Ainda era muito novo e acompanhava o regente nos encontros políticos em que este, para tomar decisões, ouvia sempre os outros.”

“Descanse em paz”
Pelas estradas sul-africanas que ligam cidades do Cabo Oriental, cartazes foram colocados em postos de electricidade, com imagens de Mandela a sorrir, com mensagens de agradecimento pelo que fez no país, e um desejo: “Descanse em paz.” E nas cidades várias mensagens ocupam lugares de destaque, como num arranha-céus de Joanesburgo, em que letras em néon deixam um especial reconhecimento ao ex-Presidente.

O site News24 abriu uma opção para utilizadores acenderem uma vela (electrónica) em memória de Mandela, e partilharem esse gesto nas redes sociais, onde ao longo dos últimos dez dias de luto nacional se multiplicaram palavras de admiração, tristeza mas também de celebração. Em várias cidades e nas planícies verdes do país xhosa dos Madibas (nome do clã de Mandela), grandes ecrãs foram montados para todos poderem assistir à cerimónia.

Todos os dias, um sorriso iluminava o rosto de Mandela, costumava dizer Ahmed Kathrada, que subiu para a tribuna, frágil e amparado, para pronunciar um dos discursos mais emotivos do dia. O amigo, combatente anti-apartheid que esteve preso em Robben Island com Nelson Mandela, disse que este ia agora ao encontro de outros activistas que deram a vida pela luta: Oliver Tambo, Govan Mbeki, Walter Sisulu. Comovido, lamentou a dor de o ver tão frágil e doente há uns meses. “Conheci-o há 67 anos e lembro-me do homem alto, saudável e forte, o boxer, o prisioneiro [sempre pronto a ajudar os outros].”
 

“Uma árvore tombou”
Quando terminaram os discursos, o vice-presidente do ANC Cyril Ramaphosa agradeceu aos oradores a possibilidade dada a todos de “percorrerem o caminho das recordações”. O caixão, coberto pela bandeira da África do Sul, foi transportado por militares e guardas de honra, para a última oração, junto à sepultura. “Veneramos-te como a luz do mundo”, disse o reverendo metodista D. Dabula. Ao som das salvas de canhões, três bandeiras cruzaram os céus de Qunu, em helicópteros, antes de aviões a jacto também sobrevoarem Qunu.

As câmaras cortaram a transmissão e o funeral, até então filmado em directo para todo o mundo, passou a ser privado, como era desejo da família.

“Uma grande árvore tombou. [Mandela] vai agora para casa repousar ao lado dos seus familiares”, dissera momentos antes o chefe thembu Ngangomhlaba Matanzima, em representação de toda a família, a quem foi desejada força, nos vários discursos, para superar o vazio. 

Momentos antes, no último discurso oficial, o Presidente Zuma referiu-se a Mandela como “um grande homem e, apesar disso, humilde”. “Não quisemos fazer face à realidade da tua mortalidade”, disse o Presidente, antes de agradecer a Mandela por ter sido o líder que foi “num período tão difícil na vida dos sul-africanos”.
 
 
 
 

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