Exército tailandês declara a lei marcial no país

O clã Shinawatra é considerado uma ameaça para o rei Bhumibol Adulyadej, de 86 anos.

Os militares querem restaurar a ordem
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Os militares querem restaurar a ordem Christophe ARCHAMBAULT/AFP
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Soldados tomam posição em Banguecoque Damir Sagolj/Reuters
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Os camisas vermelhas, apoiantes do Governo deposto, na rua Nicolas ASFOURI/AFP

O Exército tailandês decretou a lei marcial no país e mobilizou os soldados para Banguecoque (a capital) devido à vaga de protestos antigovernamentais violentos que, desde há seis meses, já fizeram 28 mortos.

Soldados e veículos militares ocuparam o centro da capital e cercaram as zonas sensíveis, como aquelas onde há estações de televisão. Dezenas de homens posicionaram-se também junto do local, nos arredores da cidade, onde se mantém uma manifestação de “camisas vermelhas”, os partidários do governo deposto.

Há seis meses que a Tailândia está em crise política. A oposição (os camisas amarelas, a cor da monarquia) mobilizou-se para exigir a saída do poder da primeira-ministra Yingluck Shinawatra, que tentou aprovar uma amnistia que permitiria ao irmão, o antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra (afastado pelos militares e condenado a dois anos de prisão mas que fugiu do país), regressar e retomar a actividade política. Há algumas semanas, o Tribunal Constitucional depôs a primeira-ministra por abuso de poder. 

A oposição e a elite que apoia o rei consideram o clã Shinawatra uma ameaça à monarquia e temem que usem o seu poder para realizar um golpe contra o rei Bhumibol Adulyadej, de 86 anos.

A calma que se seguiu à deposição do Governo, porém, foi de curta duração, com os pró-governo nas ruas e de novo a oposição, descontente com a presença no governo interino de antigos ministros dos Shinawatra e contra a realização de eleições legislativas que, dizem as estatísticas, deverão dar nova vitória à força política que foi afastada do poder. 
Apesar de a oposição dizer que não aceitará legislativas e que está preparada para derrubar os governantes, nem que seja pela força, o primeiro-ministro interino, Niwattumrong Boonsongpaisan, voltou ontem a avançar uma data para as eleições, 3 de Agosto.

O Exército tinha advertido que poderia intervir, para pôr fim à violência e ao caos que paralisa o país há meses. Para já, decretou a lei marcial, mas poderá dar mais um passo se a calma não regressar às ruas — e tudo indica que não será assim.

“Vamos ficar nos nossos lugares. As nossas posições mantêm-se”, disse à AFP Jatuporn Prompan, chefe dos “camisas vermelhas”, que acrescentou que o seu movimento não aceitará um golpe de Estado. 

Do lado da oposição, a decisão dos militares foi entendida como um sinal positivo — esperam que seja escolhido o primeiro-ministro e um governo neutro. “Estamos convictos de que a lei marcial vai beneficiar a nossa causa”, disse Sathit Wongnongtoey, da oposição. 

Esta terça-feira, o chefe do Exército, general Prayuth Chan-ocha, advertiu que os militares agirão contra quem ameaçar os civis. E deixou um apelo aos intervenientes políticos: “Pedimos a todas as partes que conversem de forma a que se encontre uma forma de o país sair desta situação”.  

Thaksin Shinawatra, que no exílio se tinha mantido em silêncio sobre a crise, falou finalmente, através do Twitter: disse esperar que a lei marcial não “destrua a democracia na Tailândia”. 

Ao abrigo da lei marcial, o Exército decretou a censura nos meios de comunicação social e fechou o sinal de dez rádios, entre elas a BlueSky da oposição, e as AsiaUpdate e UDD, pró-governo deposto. Foram acusadas de “manipular a informação” e de “agravarem o conflito”. Os militares têm também o direito de realizar buscas em casas de cidadãos, de revistar veículos, de inspeccionar correspondência e de proibir reuniões. 

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