Erdogan prometeu derrubar o "tirano". Assad e Rússia exigiram-lhe explicações

A Turquia estava a colaborar com Moscovo na sua operação militar na Síria "contra o terrorismo", as palavras do Presidente azedam de novo as relações.

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O Governo russo pediu ao Presidente turco, Recep Erdogan, para explicar as declarações que fez sobre Bashar al-Assad. Erdogan disse que a intervenção militar turca na Síria visa "pôr fim ao reino do terror do tirano" Assad. "Trata-se de uma declaração muito grave, que contradiz todas as suas declarações precedentes", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Esperamos, obviamente, que os nossos parceiros turcos nos dêem sem demora esclarecimentos sobre esta matéria", sublinhou Peskov.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, chega esta quarta-feira à Turquia, para uma reunião em o assunto deverá ser abordado. Trata-se da primeira visita de Lavrov desde a normalização das relações entre Rússia e Turquia, depois do abate de um avião russo em Novembro de 2015.

Recep Erdogan disse, na terça-feira, que o exército turco só tinha um objectivo na sua intervenção na Síria: "Pôr fim ao regime do tirano Assad (...) e nada mais." Antes, defendera sempre que a intervenção turca se destinava a limpar a zona de fronteira de organizações terroristas – quer fosse o Daesh, quer fossem as milícias curdas na Síria.

O que mudou para Erdogan ter alterado o seu discurso? Nos últimos dias, a progressão do exército sírio nas zonas controladas pelos rebeldes, nomeadamente na cidade estratégica de Alepo, levou os analistas a considerar que Assad — que conta com o apoio da Rússia — vai manter-se no poder em Damasco.

Para o Governo de Bashar al-Assad, as declarações de Erdogan "mostram claramente" a agressão turca no território sírio. São o resultado das "ambições e ilusões de um déspota extremista que transformou a Turquia numa base para grupos terroristas nascidos de mesma ideologia e cujo objectivo é desestabilizar a Síria e o Iraque", disse o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Muallem, citado pela AFP.

"Os líderes, o exército e o povo sírio não permitirão que este déspota arrogante se intrometa nos seus assuntos — disse Muallem  —, assim como não irão permitir que [Erdogan] se meta nos assuntos da região."

Na semana passada, o estado-maior turco questionou o Governo sírio sobre a morte de quatro dos seus soldados, o que motivou uma conversa telefónica entre Erdogan e Putin.

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