Capacetes azuis da ONU acusados de violação de crianças no Haiti e na Libéria

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O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, garantiu uma política de tolerância zero relativamente a estes abusos Justin Lane/EPA (arquivo)

Os capacetes azuis da ONU destacados no Haiti e na Libéria são acusados de violação e incitamento à prostituição de crianças nesses países, avança a BBC.

As crianças em causa — uma das quais com 11 anos de idade — afirmam que foram forçadas a manter relações sexuais com capacetes azuis em troca de comida ou dinheiro.

A secretária-geral-adjunta das Nações Unidas para as operações de paz, Jane Holl Lute, admitiu a existência de abusos sexuais por parte de soldados ao serviço da organização e que a prática está disseminada.

"Temos problemas de exploração de população vulnerável desde o início da constituição das forças de paz", disse Jane Holl Lute à BBC.

"Acho que este problema existe em todas as nossas missões", afirmou a responável.

Autoridades alegam falta de provas

Segundo a BBC, uma menina haitiana de 11 anos de idade afirmou ter sido vítima de abusos sexuais por parte de capacetes azuis, junto aos portões do Palácio Presidencial, em Port-au-Prince.

Uma outra criança, de 14 anos, descreveu o seu rapto e violação numa base naval das Nações Unidas, há dois anos.

Apesar da existência de indícios médicos e circunstanciais pormenorizados, a denúncia foi abandonada por falta de provas e o suspeito de violação foi repatriado.

Na Libéria, uma jovem de 15 anos afirmou ter sido atacada por um oficial da ONU, no dia 15 deste mês.

Em Maio deste ano, uma outra investigação da BBC denunciou a prática de abusos sistemáticos na Libéria, que envolveriam a entrega de alimentos a refugiados adolescentes em troca de sexo.

ONU investigou 316 capacetes azuis

A ONU reagiu a estas denúncias com o incremento das medidas de monitorização, com a nomeação de 500 monitores para o país e a introdução de aulas obrigatórias para todos os capacetes azuis"sobre a forma como devem comportar-se.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, garantiu uma política de tolerância zero relativamente à prática de abusos.

Dados da ONU revelam que 316 capacetes azuis, de todas as missões, foram investigados. Alguns deles foram demitidos ou repatriados.

A organização Refugees International referiu à BBC que "a cultura do silêncio" em alguns destacamentos e o receio do castigo não são suficientes para garantir o cumprimento das regras da ONU.

De acordo com as regras das Nações Unidas, os capacetes azuis não podem ser julgados no país onde estão destacados, competindo ao país de onde são originários julgá-los pelos crimes cometidos.

A ONU já enfrentou alguns escândalos semelhantes no passado, incluindo acusações de pedofilia na RD Congo e tráfico de prostitutas no Kosovo.

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